Entrevista com o fundador da Editora DarkSide, Christiano Menezes

Criada há apenas três anos, a DarkSide é a única editora brasileira voltada exclusivamente para as literaturas de terror e fantasia. Nesse curto período, ela tem, entre suas conquistas, ter se tornado uma referência para os leitores desse segmento literário e ter vendido quase um milhão de exemplares (uma média de 25.000 exemplares para cada um dos 40 títulos lançados).

O FICÇÃO TERROR entrevistou um dos responsáveis por esse sucesso, Christiano Menezes, que fundou a DarkSide junto com Chico de Assis, seu sócio na empresa de artes visuais Retina78. 

Em um rápido bate-papo por e-mail, esse carioca do Grajaú, de 37 anos, falou sobre a fundação da DarkSide, o próximo lançamento da editora e a expectativa do surgimento de uma nova safra de autores nacionais nos três anos seguintes.

Christiano com seu amigo Freddy Krueger

Veja a entrevista:

FT: Você tinha uma empresa de artes visuais que trabalhava com artes gráficas em livros. Também já se envolveu com um selo de quadrinhos na Editora Leya, o Barba Negra. Quando você sentiu que era hora de dar um passo adiante e criar sua própria editora?
CM: Ainda tenho o meu escritório, Retina78, que criei com meu sócio, Chico de Assis, também meu parceiro na DarkSide. Continuamos fazendo projetos para as principais editoras do mercado. Sempre fui um fã do universo dos quadrinhos e quando surgiu o convite do amigo Lobo [roteirista e editor Sandro Lobo] não pensei duas vezes e embarcamos na loucura da Barba Negra. Sou ilustrador, trabalhei com restauração de igreja, alguns anos com animação 2D, além de ser músico e um apaixonado por literatura e cinema. A mudança é algo constante em minha vida. Nunca fui de fazer
apenas uma coisa. Os diferentes caminhos e possibilidades me retroalimentam. Tenho uma parceria de mais de dez anos com o diretor Luiz Fernando Carvalho [diretor de cinema e TV, conhecido por trabalhos como o filme Lavoura Arcaica, de 2001, e as novelas Renascer, de 1993, e Rei do Gado, de 1996, entre dezenas de outras] envolvendo o trabalho de arte e texto.

FT: Por que uma editora voltada para o terror e a fantasia?
CM: Acredito que o terror e a fantasia estão em tudo. Nos ajudam a despertar para o universo da leitura. Além de tudo, somos fãs desses universos que há muito tempo foram deixados de lado pelo mercado editorial.

FT: A DarkSide está completando três anos e pode-se dizer que já fez um nome no mercado editorial brasileiro. Quais são as principais conquistas da editora?
CM: A DarkSide ainda é bem nova, mas a maior conquista foi saber que do outro lado existiam leitores pensando como nós. Já publicamos em torno de 40 títulos e temos mais de 500 mil Darksiders engajados nas redes sociais e chegaremos até o fim do ano a um milhão de livros vendidos.

FT: Nos Estados Unidos, tem uma editora que parece um pouco com a proposta de vocês, a Cemetery Dance (vejam a entrevista com o fundador da Cemetery Dance, Richard Chizmar), voltada para o terror e dark fantasy, com livros graficamente bem trabalhados. Vocês já pensaram em fazer alguma parceria com eles, para publicar suas coletâneas aqui no Brasil?
CM: No meio dessa loucura toda, conhecemos muitos amigos novos e a Cemetery Dance faz parte deles. 2016 será o ano dos amigos e dos autores nacionais.

Christiano, ainda criança, mostrando seu gosto pela leitura


FT: A maioria dos seus lançamentos são traduções de obras estrangeiras. Falta qualidade ao autor brasileiro ou nomes nacionais vendem menos?
CM: De forma alguma. De 2013 até agora recebemos mais de mil originais, incluindo romances completos, contos, ideias que ainda estão começando a florir. O nosso mercado vai receber uma nova leva de jovens autores incríveis nos próximos três anos. Isso não é uma previsão e, sim, uma constatação.

FT: Quais são os próximos lançamentos da DarkSide?
CM: Acabamos de publicar agora o primeiro livro da nova triologia de Mark Lawrence, A Guerra da Rainha Vermelha: Prince of Fools, mais conhecido pela Trilogia dos Espinhos, que vendeu mais de 200 mil exemplares, algo muito expressivo para um novo autor, completamente desconhecido para os leitores brasileiros até 2013. Vamos lançar em 2016 uma das novas vozes da dark fantasy, Robert Jackson, autor do aclamado City of Stairs.


FT: Para finalizar, quais são suas principais influências na literatura?
CM: Minha biblioteca é um tanto estranha (risos). Vai de Lewis Carrol, Marcos Rey, William Golding, JD Salinger, Thomas Ligotti, HP Lovecraft, Edgar Allan Poe, Clive Barker, Tolkien, Ray Bradbury, Luis Fernando Verissimo, Rubem Fonseca, Haruki Murakami até a Bíblia e a Turma da Mônica (risos).