COMBOIO DE ESPECTROS, de Duda Falcão: Um olhar sobre o livro

Comboio de Espectros é o quarto livro de Duda Falcão e sua terceira coletânea de contos. Depois dos excelentes Mausoléu (2013) e Treze (2015), o autor gaúcho não deixa a peteca cair com uma reunião de 11 contos de 2017.

O novo livro segue o mesmo estilo dos antecessores. A capa, ao estilo pulp, é desenhada pelo talentoso Fred Macedo. E o livro é apresentado, em suas primeiras páginas, pelo personagem morto-vivo O Anfitrião, uma espécie de Guardião da Cripta, que também deu as caras em Mausoléu e Treze.

É difícil sustentar coletâneas de contos com um nível elevado do início ao fim. Mas Duda consegue fazer isso em Comboio de Espectros. Em geral, e digo por experiência própria, alguns contos são bem mais fracos que outros. Há casos inclusive que o leitor se pergunta o que aquele conto está fazendo no livro.

Em Mausoléu, eu senti que, apesar de Duda manter a qualidade da escrita, alguns contos não me interessaram muito (o que é normal, em um compêndio de 35 trabalhos). Comboio dos Espectros, assim como Treze, é um livro com menos contos e, talvez por isso, conseguiu me agradar do início do fim.

Duda continua com sua predileção por criar sequências e prequels de contos, algo não muito comum. Há, se não me engano, três casos no livro. Um deles é O Trem do Inferno, que continua com a saga do interessante personagem Kane Blackmoon, um índio norte-americano que, com um pouco de magia e algumas tatuagens, conseguiu aprisionar um demônio dentro de si.

As histórias de Blackmoon, publicadas em Mausoléu e Treze, já tinham chamado minha atenção e figurado como algumas de minhas favoritas, por sua mistura de western, ação, fantasia e terror. O Trem no Inferno traz mais uma aventura do índio caçador de recompensas. Desta vez, ele luta contra o demônio em uma viagem de trem que corta os Estados Unidos.

O universo de Blackmoon realmente merece várias histórias ou pelo menos uma grande história. Não por acaso, o índio será o tema do próximo romance de Duda Falcão, que está em vias de ser publicado.



O conto que dá título ao livro, Comboio de Espectros, é, na verdade, uma novela de 50 páginas que abre o livro. Na primeira parte da história, vemos uma coleção de narrativas aparentemente desconexas, que se ligam no final do livro. O resultado é uma boa história de terror, que mistura elementos bíblicos, demônios e espíritos, tudo isso envolvendo um padre do Vaticano.

Duda também rende suas homenagens ao autor que parece ser seu favorito, H.P. Lovecraft, com duas histórias baseadas nos mitos de Chtulhu: O Sangue dos Antigos e a excelente Sonhadoras. Esta última, em estilo epistolar, parece ter sido escrita pelo próprio Lovecraft. É uma das minhas favoritas no livro.

Por fim, destaco Película Fantasma, um conto escrito para uma coletânea de histórias envolvendo salas de cinema. É a trama mais curiosa do livro. No estilo weird/bizarre horror, que é de longe o meu favorito.

Agora é esperar pelo romance de Kane Blackmoon.

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