Thomas
Olde Heuvelt tem 34 anos e vem de um país sem qualquer
tradição no terror, a Holanda. Mesmo sem um grande
reconhecimento em seu próprio país, Heuvelt conseguiu
conquistar o mundo e seu ídolo de infância, nada menos
do que Stephen King, com seu quinto romance: Hex, uma história
de bruxas diferentona.
Hex
foi recentemente lançado no país pela DarkSide Books e
bateu um papo via e-mail com o FICÇÃO TERROR, onde ele
fala sobre a ideia do livro, sobre o empurrãozinho que uma
simples twittada de Stephen King deu à sua carreira e sobre
sua visita ao Brasil, em junho.
Veja
a entrevista:
FT: Hex já
foi publicado em muitos países, incluindo os Estados Unidos e
a Inglaterra. Você espera esse sucesso?
TOH: Tem sido uma
jornada excepcional, realmente. Eu me lembro de quando tinha 11 anos
e estava numa livraria na Holanda, em frente a uma estante com os
romances de Stephen King. Eu disse para mim mesmo: sim, é isso
que eu quero fazer quando crescer. Trabalho desde muito novo para
alcançar o que alcancei hoje e hoje ver tudo isso é
muito gratificante. E eu voltei àquele início, quando
King twittou sobre o meu livro assim que ele foi lançado nos
EUA, classificando-o como “brilhantemente original”. É
muito importante quando um herói de infância e ícone
da cultura pop diz algo como aquilo! Hoje, eu recebo mensagens de
muitos leitores, de todo o mundo, através do Facebook, do
Instagram e do e-mail. E essa é a melhor parte de tudo. Quando
alguém da Índia, Argentina, Ucrânia ou China te
diz que tiveram que dormir com as luzes acesas, o que mais eu poderia
querer, como autor de histórias assustadoras?
FT: Por que você
acha que editoras de todo o mundo se interessaram por Hex? O
que é tão atraente nesse livro?
TOH: Eu acho que o
livro tem um quê de novidade em relação ao que os
leitores estão acostumados. Quando eu pensei no conceito, era
apenas uma história de fantasma sobre uma cidade assombrada
por uma mulher do século XVII condenada por bruxaria. Ela tem
seus olhos fechados e costurados porque as pessoas acreditavam que
ela tinha maldade nos olhos. E hoje, ela ainda está por lá,
andando pelas ruas e matando as pessoas de susto. Eu mostrei a ideia
para um amigo na Holanda que é um cineasta e ele destruiu-a
completamente. E com razão. Era tão chata, sem graça
e sem originalidade. Então, começamos a brincar com a
ideia e veja onde isso nos levou. E se a bruxa não fosse uma
aparição sobrenatural assustadora, mas a piada da
cidade? E se os moradores da cidade usassem a presença da
bruxa para, em vez de se assustarem, pendurassem toalhas sobre seu
rosto quando ela aparecesse na sala? De repente, comecei a me
empolgar com aquilo. Essa reviravolta fez a história ficar
interessante. E acho que é o que está provocando fortes
emoções em tantos leitores ao redor do mundo. É
uma assombração do mundo moderno e você lida com
isso de forma prática. Imagine se isso acontecesse na sua
própria cidade, nos dias de hoje, como você lidaria com
isso? Você teria um aplicativo no seu celular, é claro –
o HEXApp – para relatar aparições e poder
acompanhá-la. Você ia tentar evitar que pessoas de fora
da cidade vissem as aparições, então você
a cobriria com coisas loucas, como armários de ferramentas,
arbustos ou corais de velhas senhoras quando ela estivesse aparecendo
em locais públicos. Mas, ao mesmo tempo – e é aí
que a história se volta para o terror clássico e
arquetípico – em seu íntimo, você ainda estaria
muito assustado. Assustado com o desconhecido, que a bruxa
representa. Com o dia que ela poderá abrir seus olhos. E com o
que acontecerá com você se você não
obedecer as regras da cidade...
FT: Antes de lançar
Hex, você já publicou quatro romances. Como esses
trabalhos anteriores foram recebidos pelos críticos e pelo
público?
TOH: Meus dois
primeiros livros foram lançados quando eu tinha 18 e 21 anos,
por uma editora pequena na Holanda. Foi tudo numa escala muito
pequena, mas eu me mantive firme, porque eu estava escrevendo algo
muito diferente do que as pessoas estão acostumadas por aqui.
Depois disso, fechei contrato com uma editora grande, que traduzia
ficção estrangeira popular como Dan Brown, Stephen King
e George R.R. Martin. Desde então, eles passaram a publicar
meus romances. A recepção tem sido boa –
especialmente para meu quatro romance, que não era de terror,
mas de realismo fantástico e que curiosamente só
decolou depois do sucesso internacional de Hex. Apenas depois
que Stephen King twittou sobre Hex e eu fiz uma turnê por 36
cidades americanas, foi que um grande programa de TV holandês
me convidou. Em seguida, Hex atingiu o número na lista de
bestsellers de thriller e esteve na lista geral de bestsellers por 25
semanas, com resenhas entusiásticas. Acho que precisei
primeiro da descoberta internacional para que os holandeses
começassem a acreditar no livro!
FT: Existe alguma
cena de terror na Holanda? Há algum outro autor holandês
que devemos prestar atenção?
TOH: Infelizmente, não
há uma cena de ficção de terror na Holanda. Como
eu disse, eu me mantive firme. Não temos uma tradição
de ficção de terror, nem de fantasia ou de ficção
científica. A cultura holandesa tem uma natureza muito
calvinista, assim como a nossa literatura. Não é
originalmente voltada para o enredo, mas para o teor do monólogo
interior. Um dos maiores clássicos da literatura holandesa é
um romance chamado De Avonden (Os Entardeceres) de
Gerard Reve. É um livro sobre nada. Ele se passa em dez dias
de nada. Nada acontece nele. Você o lê até o fim e
nada acontece mesmo. Eu fui forçado a lê-lo no ensino
médio, aos 15 anos, e meu professor de literatura chamava o
livro de “uma exploração da tédio, uma
celebração do nada”. E eu pensei, não. Espere
um minuto. Aqui eu tracei uma linha. Dê a qualquer jovem de 15
anos esse livro e ele mata qualquer prazer de leitura. Eu queria
celebrar alguma coisa, em vez de nada. Àquela altura, eu
estava lendo algo de literatura americana e eu descobri que, ao
contrário da literatura holandesa, ela é voltada para o
enredo. Não apenas em romances de terror, mas também em
romances literários. Coisas aconteciam nesses livros. E eu
adorava isso. Ser voltado para o enredo, como você deve saber,
não tem nada a ver com alguma falta de profundidade
psicológica. Hoje em dia, a literatura holandesa é
muito mais internacional. Romance policial é a grande coisa.
Assim como livros românticos. Terror não vende como um
gênero na Holanda, mas autores vendem por causa do nome.
Stephen King, é claro, vende muito. Espero que isso inspire
outros autores holandeses a também explorar esse gênero.
FT: Há alguma
possibilidade de vermos uma adaptação cinematográfica
de Hex?
TOH: Sim! Apesar de que
será uma série de TV, não uma adaptação
cinematográfica. Está atualmente sendo desenvolvida por
Gary Dauberman, o cara que escreveu o roteiro para a adaptação
recente de A Coisa (It), de Stephen King. Ele está
trabalhando na primeira temporada. Ele é um roteirista
incrível e estou muito confiante de que a série será
muito empolgante...
FT: Pode nos dizer
algo sobre o trabalho de tradução de Hex para
o português? Você se comunicou com o tradutor?
TOH: Na verdade, não.
A tradução para o português foi feita com base na
edição em língua inglesa do meu livro, em que
trabalhei muito duro junto com a tradutora do holandês para o
inglês, Nancy Forester Flier. Todas as edições
estrangeiras são baseadas nessa edição [em
inglês]. Para a tradução em português, deve
ter sido um trabalho mais fluido, porque não entrei em contato
com o tradutor em nenhum momento. E por mim, está ok. Alguns
entram em contato quando têm dúvidas. O fato de que o
tradutor para o português não entrou em contato
significa que fizemos um bom trabalho com a edição
inglesa, porque aparentemente tudo está muito claro!
FT: Você viu a
edição brasileira de Hex? O que achou?
TOH: É
absolutamente brilhante. Adoro a forma como a DarkSide apresenta seus
livros. Eles os transforma em objetos de arte, cada um diferente e
inesperado. Eu adorei a pegada moderna que eles deram à
abertura do olho maldito. Eu vi várias capas incríveis
– você deveria ver a britânica e a chinesa – mas a
brasileira é diferente de todas as outras. É
excepcional.
FT: Uma última
pergunta. Conhece alguma coisa sobre a cultura ou literatura
brasileiras?
TOH: Não conheço
muito sobre literatura brasileira, mas eu sei algo sobre a cultura de
vocês. Minha irmã cursou Estudos Portugueses e
Latino-Americanos e morou em Cuiabá e Recife por alguns anos.
Ela também estudou em São Paulo por um tempo. Ela me
contou histórias interessantes sobre suas experiências e
ela realmente se apaixonou pelo país. Mal posso esperar para
que eu mesmo experimente. Em junho, irei para o Rio de Janeiro, São
Paulo e Porto Alegre para encontros com leitores e para autografar
livros, então, se vocês estiverem por perto, dêem
uma olhada no meu Instagram e Facebook para ver onde estarei e venham
dar um “oi”!
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FT: Hex has been
published in many countries, including the US and the UK. Did you
expect such a huge success?
TOH: It’s been an
exceptional journey, really. I remember when I was eleven years old
and in a bookstore in The Netherlands, in front of all the shelves
with Stephen King’s novels. I told myself then: yeah, that’s what
I want to do when I grow up. I’ve worked since a very young age to
achieve what I achieved today, and to see it all play out is very
rewarding. It all came full circle when King tweeted about my book
when it came out in the US, calling it ‘brilliantly original’. It
means a lot when your childhood hero and a pop culture icon like him
tells you that! Nowadays, I get messages from many readers from all
around the world on Facebook and Instagram and email. That’s the
best part of all. When someone from India or Argentine or Ukraine or
China tells you that they had to sleep with the lights on, what more
could you want, as a writer of scary stories?
FT: Why do you think
publishers around the world fell for Hex? What's so attractive about
it?
TOH: I think the book
has a certain freshness of what readers are used to. When I first
came up with the concept, it was a general ghost story about a town
haunted by a 17th century woman who was convicted of witchcraft.
She has her eyes sewn shut because people believed she had they evil
eye. And today, she’s still there, walking the streets and scaring
people out of their minds. I showed the concept to a friend in The
Netherlands who is a film maker, and he completely burnt it down.
Rightly so. It was boring and bland and unoriginal. So we started to
fool around with the idea and see where it would take us. So what if
the witch was not this scary supernatural apparition, but the town’s
fool? What if the townsfolk were so used to her presence that instead
of being scared, they’d hang a towel over her face when she appears
in their living room for the X-manieth time? Suddenly I started to
get excited. This twist made the story sing. And I think that’s
what’s hitting a nerve with so many readers all around the world.
It’s a modern-day haunting, and you get practical. Imagine this
would happen in your own home town nowadays, how would you deal with
it? You’d have an app on your phone, of course – the HEXApp –
to report sightings and keep track of her. You’d go out of your
wits to prevent sightings from outsiders, so you cover her up with
crazy stuff like tool sheds or bushes or old women’s choirs when
she’s standing at public places. But at the same time – and this
is where the story turns back to classical, archetypical horror –
in your core, you’d still very much be afraid. Of the unknown, the
witch represents. Of the day she might open her eyes. And of what
will happen to you if you don’t obey the town’s rules…
FT: Before releasing
Hex you had published four novels. How had these previous works been
received by the critics and the public?
TOH: My first two books
were released when I was 18 and 21, with a small publishing house in
The Netherlands. It was all pretty small scale, but I stood out,
because I was writing something very different than what people are
used to over here. After that, I was picked up by a major publishing
house, who translated popular American fiction like Dan Brown,
Stephen King, George RR Martin. They published my novels ever since.
Reception has been well – especially with my fourth novel, which
was not horror but magical realism – but funny enough, it only took
off after HEX hit it internationally. Only after Stephen King tweeted
about it and I did a US Book Tour of 36 cities, I was invited to a
major TV show in the Netherlands. Next thing, HEX topped number 1 in
the thriller bestseller list and was on the overall bestselling list
for over twenty-five weeks, with rave reviews. I guess I needed the
international breakthrough before the Dutch started to believe in it!
FT: Is there a
horror literature scene in Netherlands? Are there any dutch horror
authors we should pay attention to?
TOH: Unfortunately,
there is no Dutch horror fiction scene. Like I mentioned – I stood
out. We don’t have a tradition of horror fiction, nor fantasy or SF
for that matter. Dutch culture is very Calvinistic in nature,
and our literature is as well. It’s originally not plot-driven, but
full of interior monologue. One of the all-time classics of Dutch
literature, is a novel called De Avonden (‘The Evenings’)
by Gerard Reve. It’s a book about nothing. It spans ten days of
nothingness. Nothing happens in it. Then you read on, and still
nothing happens. I was forced to read it in high school at the age of
fifteen, and my literature teacher called it ‘an exploration of
boredom, a celebration of nothingness’. And I was like, no. Wait a
minute. Here is where I draw the line. Give any fifteen-year-old this
book and it kills their joy in reading. I wanted to celebrate
something, not nothing. By then, I was already reading quite a bit of
American literature, and I discovered that it, contrary to Dutch
literature, was always plot-driven. Not only the horror novels, but
also literary novels. Stuff happened in these books. And I loved it.
Plot-driven has, as you know, nothing to do with any lack in
psychological depth. Nowadays, Dutch literature is much more
international. Crime is big. So is romance. Horror doesn’t sell as
a genre in Holland, but authors sell by name. Stephen King of course
sells a lot. I do. I hope that will inspire other Dutch writers to
try the genre as well.
FT: Is there any
possibility we'll see a film adaptation of Hex?
TOH: Yes! Although it
will be a TV series, not a film adaptation. It’s currently under
development by Gary Dauberman, the guy who wrote the screenplay for
the recent adaptation of Stephen King’s IT. He’s working on the
first season. He’s an amazing screenwriter, and I’m pretty
confident the series will be really exciting…
FT: Can you tell us
how the translation task to the portuguese was done? Did you talk
frequently with the translator?
TOH: Actually, not at
all. The Portuguese translation was based on the English language
edition of the book, which I worked very hard on together with my
dutch-English translator, Nancy Forest Flier. All the foreign
publications are based on this new edition. As for the Portuguese
translation, it must have been a really fluid process, because I
haven’t been in touch with the translator at all. That’s fine.
Some reach out when they have questions. The fact that the Portuguese
translator didn’t, means we’ve done our job with the English
edition, because apparently it was all clear!
FT: Did you see the
Brazilian edition of Hex? Did you like it?
TOH: It is absolutely
brilliant. I love the way Darkside presents their books. They make
works of art out of them, each different and unexpected. I love their
modern twist on the evil eye opening. I get a lot of great covers –
you should see the British or the Chinese one – but the Brazilian
cover is different than any other. Exceptional.
FT: One last
question. Do you know anything about the Brazilian culture or
literature?
TOH: I don’t know a
lot about Brazilian literature, but I know some of its culture. My
sister has studied Portuguese and Latin American Studies, and has
lived in Cuiaba and Recife for a few years, as well as studied in Sao
Paolo for a while. She told me very interesting tales about her
experiences, and she’s really in love with the country. I can’t
wait to experience it myself. In June, I’ll come to Rio de Janeiro,
Sao Paolo and Porto Alegre to meet readers and sign books, so if
you’re around, check my Instagram and Facebook for where I’ll be
and come and say hi!
Ótima entrevista! Cara de sorte. Escritores talentosos existem muitos mas com essa sorte, poucos. Parabéns pela bela entrevista!
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