O VALE DOS MORTOS, de Rodrigo de Oliveira: Um olhar sobre o livro

O Vale dos Mortos é o livro de estreia de Rodrigo de Oliveira, publicado originalmente em 2013, pela pequena editora Baraúna. Trata-se do primeiro volume da série As Crônicas dos Mortos, que reúne quatro romances e uma novela, e que deverá ser encerrada com a publicação de mais dois romances, intitulados A Era dos Mortos (volumes 1 e 2).

Quando o livro foi originalmente publicado, em sua primeira edição, em 2013, ainda não havia qualquer menção à série As Crônicas dos Mortos, fato que só foi explicitado quando a obra foi republicada em 2014, pela Faro Editorial.

Apesar disso, o autor já demonstrava a intenção de que a história teria uma continuação, já que o final de O Vale dos Mortos deixa um grande gancho para o livro seguinte.

O primeiro volume da série mostra a apreensão da humanidade em relação à aproximação do planeta nômade Hercólubus, que parece estar em rota de colisão com a Terra; a subsequente euforia ao descobrirem que o planeta não se chocaria com a Terra; e, por fim, os dias, semanas e meses depois da passagem do Hercólubus, que apesar de não se chocar com o nosso planeta, causa uma grande catástrofe.



Bem, não é segredo para ninguém que catástrofe é essa. Afinal, todos sabem que se trata de um livro de zumbis, então todos podem imaginar que Hercólubus transforma todos em zumbis.

Ambientada principalmente na cidade do próprio autor, São José dos Campos, que fica no Vale do Paraíba (daí o "Vale dos Mortos"), a história se foca na família de Ivan, Estela e seus dois filhos. É através deles que vivenciamos a agonia de acompanhar a zumbificação da maioria esmagadora da sociedade.

No início do livro, Rodrigo de Oliveira até foge um pouco da família, para mostrar como o apocalipse zumbi afetou os governos do Brasil, Estados Unidos, China e França. Mas logo depois, ele volta para São José dos Campos e para a família de Ivan e Estela.

Mais do que uma história de terror sobre zumbis, O Vale dos Mortos é uma história sobre relações humanas, sobre a sociedade e sobre a resiliência do homem perante uma catástrofe horrível.

De início, os zumbis têm um papel importante na trama, mas, aos poucos, eles passam a ser apenas personagens acessórios numa história que lida muito mais com as diversas faces do ser humano.

Rodrigo de Oliveira têm um talento para escrever cenas de ação e também consegue criar dramas convincentes. Transparece na escrita do autor um esmero com a pesquisa sobre a história e sobre o funcionamento de equipamentos (principalmente de material bélico).

Não busquei conferir a veracidade das informações contidas no livro, mas o autor escreve com autoridade tamanha que conseguiu me convencer de que ela era um grande especialista em tudo o que escrevia.

O ponto negativo do filme é a semelhança muito grande com a história de Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978), clássico de George Romero que foi refilmado e relançado em 2004 (no Brasil, recebeu o nome de Madrugada dos Mortos).

Capa da primeira edição
Assim como o filme americano, grande parte é ambientada num shopping center e, ao ver que não conseguirão viver eternamente dentro do centro comercial, os sobreviventes turbinam um ônibus para buscar um lugar para se estabelecer.

O próprio autor revela que teve a ideia de escrever o livro ao acordar de um pesadelo que teve depois de assistir ao filme de 2004. Eu diria que o livro de Rodrigo de Oliveira é uma releitura brasileira do clássico de Romero.

Mesmo assim, a narrativa tem uma grande qualidade que garante que mesmo o leitor que viu o filme original ou o remake sintam vontade de ler a história até o final. Até porque, do meio para o final, a história de Oliveira começa a se distanciar daquela de Romero.

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