JANTAR SECRETO, de Raphael Montes: Um olhar sobre o livro

Jantar Secreto é o quarto livro do carioca Raphael Montes, um dos principais nomes da literatura de policial brasileira, que ganhou o mundo com Dias Perfeitos. Nesse novo livro, Montes mistura policial, suspense e terror psicológico para criar uma trama interessante e atraente.

Quatro amigos do interior do Paraná passam para universidades na cidade do Rio de Janeiro e decidem dividir um apartamento. Mas, depois de formados (um deles nem chega a se formar), eles se confrontam com a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho em suas profissões.

A história é quase toda narrada em primeira pessoa por Dante (com exceção de alguns interlúdios, em forma de carta e conversas de WhatsApp), um dos amigos, um homossexual formado em administração que sonha em se tornar um grande empreendedor.

No aniversário de um deles, Leitão (aquele que não se formou), que tem problemas de auto-estima e excesso de peso, dois de seus amigos, Hugo (formado em gastronomia) e Miguel (formado em medicina), decidem dar de presente uma noite de luxúria com uma prostituta de alto nível para ele.

Nenhum deles conseguiria imaginar que aquilo seria o estopim para os problemas que todos eles iriam enfrentar. Seis meses depois, eles se vêem com uma dívida de R$ 26 mil (em aluguéis atrasados) e precisam encontrar uma forma de ganhar dinheiro.

Surge então a ideia de usar os dons culinários de Hugo para fazer jantares exclusivos para clientes especiais.



Bom, não é segredo para ninguém que, por algum motivo, eles começam a servir carne humana. Isso não chega a ser um spoiler. O interessante está no desenrolar da história e em como os quatro amigos começam a se afundar cada vez mais numa trama perigosa, envolvendo canibalismo, assassinatos e desafios morais.

Raphael Montes tem uma escrita simples e popular. Sua sintaxe e vocabulário são bem coloquiais e eu gosto muito disso. O livro também tem plot twists muito interessantes e diálogos convincentes.

Mas o desenrolar do enredo não é muito verossímil. Não sei se a proposta de Montes é criar um realismo fantástico, mas é isso que o leitor encontrará, principalmente na primeira metade do livro. A preparação do primeiro jantar do grupo, que envolve não só o roubo de um cadáver, como sua carneação não soa plausível.

É claro que Montes tem a liberdade de fazer o que quiser com suas histórias, mas você precisa encarar a história como um policial realista fantástico. Se o leitor estiver disposto a fazer esse tipo de concessão, o livro funciona e muito bem.

Mas se o leitor estiver esperando um romance policial clássico, poderá se decepcionar com a história. Como leitor, eu não me prendi a esse detalhe e curti muito a história.

Na história, o terror se apresenta de algumas formas, seja pela apresentação do próprio tabu do canibalismo, seja pelas sequências gore que não poupam o leitor de destalhes de embrulhar o estômago.

(Atenção, spoiler à frente!)

A cena em que um dos amigos conhece o matadouro clandestino de pessoas é digna de Eli Roth.

(Fim do spoiler!)

O final tem uma reviravolta muito legal (bem, eu consegui imaginar a reviravolta, então não é tão genial assim, mas ainda assim é muito interessante). O epílogo fecha o livro com chave de ouro. Jantar Secreto é mais um exemplo de por que Raphael Montes é o principal nome da literatura de gênero no país atualmente.

Comentários