TREZE, de Duda Falcão: Um olhar sobre o livro

Treze é a segunda coletânea de contos de Duda Falcão, publicada em 2015, que reúne, como o título já diz, 13 contos de terror, alguns inéditos outros publicados originalmente em antologia. Assim como em Mausoléu, a primeira coletânea de Duda, o leitor pode encontrar uma boa variedade de temas.

O conto de abertura do livro, Eadgar e o Resgate de Lenora, é uma homenagem a O Corvo, de Edgar Allan Poe. Mas a história tem pouco ou nada a ver com o original do americano. Duda usa apenas os personagens e algumas referências à obra do mestre.

O conto se passa na Grécia Antiga, Eadgar é um hoplita (soldado) macedônio que deseja resgatar sua platonicamente amada Lenora, uma virgem que sempre se dedicou a servir a deusa Palas Atena, mas acabou sendo condenada ao inferno.

Eadgar faz um pacto com Palas e, guiado por um corvo, enfrenta alguns desafios para salvar a alma de sua amada. Mas como toda história de pactos sobrenaturais, o final nunca acaba bem.

Escrito para participar da antologia O Corvo: um Livro Colaborativo, o conto é uma inteligente forma de se prestar uma homenagem, criando-se uma história original, em forma de uma mini epopeia, fazendo-se o mínimo de referências à obra original.

Sob os Auspícios do Corvo, o segundo conto do livro, engana quem pensa que vai encontrar mais uma homenagem a Edgar Allan Poe. Na verdade, essa é a continuação do western de horror Bisão do Sol Poente, publicado em Mausoléu (Duda, aliás, parece curtir fazer continuações de seus contos, que é um recurso literário relativamente raro, diga-se de passagem).

Bisão do Sol Poente foi um dos meus contos favoritos em Mausoléu e sua sequência não me decepcionou, apesar da história ser bem diferente do conto original. Aqui, o herói Kane Blackmoon, que conseguiu aprisionar um poderoso demônio na história original, encontra um lar, uma família que o acolhe em seu rancho.

Apaixonado por uma das filhas de seu anfitrião, Kane planeja uma vingança maléfica quando a tragédia se abate sobre a família que o acolheu.

Os Desejos de Morris é outro conto tributo. Desta vez, a homenagem é ao clássico A Pata do Macaco (The Monkey’s Paw), publicado em 1902 pelo britânico W.W. Jacobs. Além da reverência prestada ao autor inglês, Duda faz referências a dois de seus contos publicados em Mausoléu: Museu do Terror e Relíquia.

Almas Roubadas é um conto noir com elementos de magia negra que chamou bastante minha atenção, tanto pela condução da história que tem um quê de thriller quanto por seu final sombrio. Sem dúvida uma das melhores do livro.

Abismos Insondáveis é outro tributo e o homenageado da vez são os Mitos Cthulhu, um universo de horror cósmico que permeou boa parte das obras do americano H.P. Lovecraft. A história começa de forma semelhante a Almas Roubadas, com um detetive prestando serviços a um estranho cliente.

Mas as histórias são bem diferentes. Aos poucos, o detetive-narrador Rafael Malinoski vai sendo envolvido nas teias de uma macabra seita que adora o grande Cthulhu.

A história seguinte, Senhora do Fosso, ainda tem um quê de Lovecraft, mas com uma das premissas mais originais do livro. Um homem é seduzido por uma linda mulher apenas para descobrir que se envolveu em uma macabra enrascada. É o meu conto favorito do livro.



O Vampiro Cristão é uma história com uma pegada de dark fantasy, sobre um padre transformado em vampiro que luta para manter sua fé e para se redimir como um pecador que mata pessoas para se alimentar. Tem vampiros, demônios e fadas.

As histórias seguintes, Dragão de Chumbo e Os Bonecos de Rita, assim como a última (Treze), foram as que menos me agradaram no livro. Mas ainda assim, são contos que possuem suas virtudes.

Licantropo é uma história de lobisomens diferentona. Um caminhoneiro atropela um pobre cachorro na estrada e, então, passa a sentir que está sendo assombrado pelo espírito do canídeo. Também tem uma pegada dark fantasy, com direito à aparição de seres fantásticos marinhos.

Devoradores de Narrativas é uma das histórias de horror mais psicodélicas que eu já li. A premissa é bem louca e envolve um acadêmico de história que, em busca de algum dinheiro, aceita ser vigia noturno de uma biblioteca.

Aqui, mais uma vez, Duda ludibria os leitores que acreditam que encontrarão uma história sobre um edifício mal assombrado. O que o início da história tem de clichê, o final tem de diferente. É um pouco estranha, devo confessar, mas a criatividade empreendida pelo autor é admirável.

Por fim, A Turma de Biologia é uma interessante mistura de Mary Shelley com George Romero, com um estilo narrativo jovem-adulto.


Apesar de ter bem menos histórias do que Mausoléu, Treze consegue ser um livro mais completo e, por que não dizer, melhor que seu antecessor (que já é muito bom, diga-se de passagem). Recomendável. Como diz o Anfitrião, o personagem zumbi que faz a introdução dos dois livros: “Que a sorte o acompanhe” ao ler o livro.

Comentários