GWENDY'S BUTTON BOX, de Stephen King e Richard Chizmar: Um olhar sobre o livro

Stephen King tem uma amizade e uma relação profissional de longa data com o editor e autor Richard Chizmar, o homem por trás da conceituada editora norte-americana Cemetery Dance. Desde a década de 90, Chizmar já editou vários trabalhos de King.

Mas poucos imaginavam que um dia a relação entre os dois escritores chegaria ao ponto de escreverem juntos uma história, como King já fez com Peter Straub, seu filho Owen King e Stewart O'Nan. O resultado dessa parceria pouco provável é o livro Gwendy's Button Box, recém lançado nos Estados Unidos e, portanto, inédito no Brasil.

A história por trás dessa parceria é bem interessante. Em entrevista à Entertainment Weekly, Chizmar contou que a ideia da parceria surgiu de um email que os dois trocam com frequência. King disse que tinha uma história inacabada de cerca de 7 mil palavras e ele não sabia o que fazer com aquilo.

O editor disse que pediu que King enviasse o trabalho para que ele desse uma olhada. King teria então enviado a história e dito para Chizmar: "Faça com ela o que bem entender". Chizmar então sugeriu a King que ele tentasse finalizá-la. E os dois começaram a trabalhar juntos.  

Gwendy's Button Box é um longo conto, ou, como os americanos gostam de chamar, uma novela (uma história longa demais para ser chamada de conto e curta demais para ser chamada de romance). O livro tem 178 páginas, mas a história só ocupa, efetivamente, 128 páginas. O restante é ocupado por ilustrações, informações sobre o livro e os autores e páginas em branco.

Como toda obra publicada pela Cemetery Dance, o livro tem uma edição bem caprichada, em capa dura com sobrecapa, inclusive com uma bela ilustração de capa por Ben Baldwin e interessantes desenhos no miolo, pelo artista e também escritor Keith Minnion.

A história se passa em Castle Rock, cidade fictícia (assim como Derry), que já foi cenário de romances como A Zona Morta (The Dead Zone), Cujo, A Metade Negra (The Dark Half) e Trocas Macabras (Needful Things), além de vários contos de King.

Gwendy é uma menina de 12 anos que tenta emagrecer e, por isso, rotineiramente sobe até o mirante de Castle Rock pela sugestiva Escadaria dos Suicidas, que já foi palco de dois suicídios. Ao chegar lá em cima, um estranho homem com um chapéu coco, calça jeans e sobretudo pretos, além de uma camisa branca, começa a falar com ela

Ela já o viu ali outras vezes, mas ele nunca havia puxado assunto, então inicialmente ela fica com medo. Mas o homem diz que sempre a observa e que ela é a escolhida para receber um presente muito especial, uma caixa com oito botões de comando coloridos.

Além dos botões, a caixa tem duas alavancas. Puxando uma delas, a caixa se abre e sempre aparece um chocolate em formato de bichinho que tem o poder de deixá-la sem fome pelo resto do dia. Puxando a outra, um outro compartimento se abre, revelando raras moedas de prata do século XIX (que valem um bom dinheiro, entre 600 e 800 dólares).

O homem seis dos botões representam, cada um, um continente diferente (América do Norte, América do Sul, Ásia, África, Europa e Oceania). Há ainda dois outros botões, um vermelho, que atende a qualquer desejo, e um preto, que não deve ser apertado em nenhuma hipótese.

O homem não fiz para que servem os botões, mas a menina acredita que eles sejam capazes de varrer cada um dos continentes do mapa e que o preto destruirá a Terra.

Gwendy's Button Box é um terror bem leve que mexe com um dos medos mais básicos do homem, a extinção da humanidade por uma catástrofe (seja ela natural ou artificial, como uma hecatombe nuclear).

A história acompanha a vida de Gwendy, enquanto ela passa da infância para a adolescência e daí para a fase adulta, mostrando os dramas típicos de uma menina, como namoros, amizades, família, medos e perdas. Então sob esse ponto de vista, a história é basicamente um drama humano.

Mas, ao mesmo tempo, durante toda a história, a caixa está presente. Seja porque Gwendy precisa protegê-la, seja porque Gwendy recorre a ela em momentos de incertezas e de raiva.

O leitor também percebe que a caixa é mágica. Não são apenas os botões. A caixa tem o poder de atender aos desejos da moça e também tem efeitos involuntários sobre vida dela. Então, sob esse ponto de vista é uma história de fantasia.




Mas é uma fantasia sombria, ou seja, uma história de terror, porque o leitor sabe que há algo de errado com aquela caixa e com o homem que a deu a Gwendy. King e Chizmar chamam a atenção para isso durante toda a história.

O livro me lembrou muito o filme A Caixa (The Box, 2009), mas sem o dilema financeiro (já que no filme, a mulher sabe que se apertar o botão, ela ficará milionária, mas alguém morrerá por culpa dela), que, por sua vez, é baseado no conto de Richard Matheson (que nunca li) Button, Button.

Ele uma mistura vários elementos do horror para provocar a angústia no leitor. Há um desconhecido que oferece um presente suspeito: quem é o desconhecido e o que ele pretende ao oferecer aquela caixa mágica à menina? O que será liberado se a "Caixa de Pandora" for aberta, ou seja, se os botões forem acionado? E será que Gwendy ou alguma outra pessoa apertará os botões que podem destruir a humanidade (em tempos de Trump, nada mais assustador do que um louco com esse poder)?

Apesar de ter sido escrito em parceria com Richard Chizmar, é possível ver o estilo de King entranhado na história. Mas, ao mesmo tempo, dá para perceber que Chizmar conseguiu imprimir alguma coisa diferente no conto.

Muito recomendável. Espero que o livro chegue logo ao Brasil.

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