O ÚLTIMO SACRAMENTO (2013): Um olhar sobre o filme

O Último Sacramento (The Sacrament, 2013) é um filme produzido pelo mestre do gore, Eli Roth, mas que, apesar disso, tem pouco sangue à mostra. A produção, escrita e dirigida por Ti West, apela muito mais para o terror psicológico e para o suspense do que para a sanguinolência gratuita.

Um fotógrafo de moda de Nova York recebe uma carta de sua irmã, uma usuária de drogas que se juntou a uma obscura seita cristã de caráter comunal que busca viver em um mundo sem violência, sem dor e sem preconceitos. A carta o convida a visitá-la no novo acampamento da seita, em algum lugar não especificado fora dos Estados Unidos.

O fotógrafo então convida dois amigos jornalistas da produtora Vice para acompanhá-lo até lá, não só para resgatar sua irmã como para documentar a estranha seita, liderada pelo carismático líder, carinhosamente chamado de "Pai" por seus seguidores.

O filme é todo rodado como um found footage, ou seja, filmado de forma quase-amadora como se fosse um documentário. E, na verdade, o estilo como é narrado, com entrevistas, observações do repórter e legendas explicativas, se parece bastante com as reportagens da Vice.

Para quem ainda não conhece, a Vice é uma produtora real que revolucionou o jornalismo internacional com sua narrativa informal e sua proposta de ser independente dos grandes interesses midiáticos. Achei bem legal, a ideia de Ti West de fazer um filme como se fosse um documentário da Vice. Talvez seja o grande ponto positivo do filme.

Atenção, spoilers à frente:

O Último Sacramento é quase inteiramente baseado no suicídio em massa ocorrido na seita Peoples Temple, do reverendo Jim Jones, na Guiana, na década de 1970, quando mais de 900 pessoas se mataram sob orientação de seu líder espiritual.

Apesar de não citar em nenhum momento que o filme se baseia no suicídio dos seguidores da Peoples Temple, o diretor/roteirista faz claras referências ao episódio: o líder carismático se chama Gene Jones, o acampamento da seita se chama Eden Parish (uma referência ao California Eden de Jones), o suicídio em massa se dá com a bebida de um suco de frutas envenenado e o fim de Gene e de Jim é o mesmo, entre outras referências.

A grande dúvida é o que acontecerá com a equipe de filmagem da Vice.

Fim dos spoilers.

Na primeira metade do filme, acompanhamos a equipe da Vice produzindo seu documentário e entrevistando os seguidores de Gene Jones. O espectador logo percebe que há um estranho clima no ar. Aquela seita esconde alguma coisa. Há algo obscuro naquelas pessoas, além da simples busca por uma sociedade utópica.

Então, depois da bizarra entrevista dos jornalistas da Vice com o Gene Jones, o elemento sombrio que mantinha-se apenas subjacente começa a vir à tona.

Como já dito, o filme tem pouco gore para uma produção supervisionada por Eli Roth, mas não há falta de sangue. Há algumas mortes bem gráficas no filme. Algumas coisas para embrulhar levemente o estômago de quem não está acostumado.

Há também umas boas cenas de perseguição envolvendo um dos jornalistas e os seguranças do acampamento armados com fuzis Kalashnikov.

A história do massacre de Jonestown, em 1978, já é aterrorizante o suficiente e não precisaria de muito esforço de qualquer diretor em transformar o episódio em um filme de terror repulsivo. E, na verdade, Ti West, não parece mesmo se esforçar para trazer elementos fictícios novos à história real de Jim Jones.

O filme também tem um grande furo. Toda a história é filmada com duas câmeras. No entanto, uma das câmeras é deixada no acampamento enquanto os jornalistas tentam fugir (não vou dizer se eles conseguem, para não estragar o filme). Se a câmera é deixada no equipamento, como eles conseguiram ter acesso aos vídeos gravados naquele equipamento.

O que temos é um bom filme de terror e drama humano, mas nada muito excepcional.

AVALIAÇÃO GERAL: Bom.
NÍVEL DE TERROR: Fraco
O QUE ESPERAR: Suspense e violência



DADOS DO FILME:
Título original: The Sacrament
Subgêneros: Terror humano/Seitas apocalípticas
Direção: Ti West
Ano: 2013 (festivais); 2014 (circuito comercial)
País: EUA
Duração: 99 min.