Paul Tremblay é um nome ainda desconhecido no Brasil. Mas é provável que isso mude em breve, já que seu maior sucesso, Na Escuridão da Mente (A Head Full of Ghosts) será publicado aqui no país pela editora Bertrand Brasil, em maio deste ano.
Autor de uma dezena de livros, esse norte-americano de 45 anos passou os 15 primeiros anos de sua carreira sem emplacar grandes sucessos comerciais. Foi justamente Na Escuridão da Mente, publicado originalmente em 2015, nos Estados Unidos, que fez a maré mudar na carreira de Tremblay.
Nesta entrevista, ao blog FICÇÃO TERROR, o autor fala sobre sua carreira, sobre a história de Na Escuridão da Mente e sobre como um inesperado "empurrãozinho" do mestre do terror, Stephen King, ajudou a impulsionar a carreira de Tremblay.
Além de ter vendido muito mais do que qualquer outra de suas obras anteriores, o livro conquistou o prêmio de melhor romance do Bram Stoker Awards 2015 (o principal prêmio da literatura de horror mundial), começou a ganhar versões em outros idiomas e conseguiu algo notável: "assustou demais" o mestre King.
Leia a entrevista:
FT: Na Escuridão
da Mente será publicado no Brasil pela Bertrand, da
Editora Record. O Brasil é um mercado difícil para a
literatura de terror e apenas um pequeno número de autores
estrangeiros consegue ser publicado aqui. Como você se sente
sobre isso?
PT: Bem, agora eu estou
nervoso! Estou animado e profundamente honrado em ser publicado pela
Bertrand/Editora Record. Espero que todos os tipos de leitores se
conectem com a história sombria de uma família em
crise, uma história que faz comentários sobre o gênero
do terror mas também sobre os efeitos que a cultura pop tem em
todos nós.
FT: Fale-nos um pouco
sobre o seu livro. O que os leitores brasileiros podem esperar de Na
Escuridão da Mente?
PT: Podemos chamá-lo
de um romance sobre possessão/exorcismo que é
pós-moderno e cético. Merry Barrett, uma mulher de 23
anos, que está sendo entrevistada por um escritor best-seller
sobre eventos que afetaram sua casa e sua família, 15 anos
atrás. Sua irmã mais velha, Marjorie, tinha 14 anos e
vinha sofrendo com esquizofrenia, surto psicótico ou (como seu
pai e outros acreditam) ou possessão. Seus pais, desesperados
por ajuda e dinheiro (seu pai estava desempregado há mais de
um ano), permitem que a equipe de um reality show na TV documente
suas vidas nas semanas que antecedem uma tentativa de exorcismo por
um padre católico. Como pode-se imaginar, as coisas não
correm muito bem. Também tem uma blogueira que se intromete na
narrativa para questionar a veracidade do programa de TV e que
desconstrói os acontecimentos do romance e as narrativas de
terror como um todo. O núcleo emocional do romance gira em
torno de um doloroso relacionamento entre duas irmãs. Espero
que os leitores se conectem e criem uma empatia com as irmãs.
Também espero que a natureza ambígua da narrativa, que
não deixa claro se algo sobrenatural ocorreu ou não,
perdure até depois da página final.
FT: Na Escuridão
da Mente não é o seu primeiro romance. Você
tem uma longa carreira na literatura, com quase uma dúzia de
livros publicados, seja como autor ou como editor. Mas,
aparentemente, essa é a sua obra mais bem-sucedida até
agora, tendo sido publicada por uma editora gigante (William Morrow,
do grupo Harper Collins), tendo ganhado um Prêmio Bram Stoker e
tendo sido traduzido para outras línguas. Quando você
percebeu que o livro tinha esse potencial enorme?
PT: Espero que isso não
soe desagradável, mas desde o início eu achava que
estava sobre algo bom. Mas eu não tinha ideia de que isso se
traduziria em vendas, já que isso foge ao meu controle e à
minha capacidade de prever o futuro. Quando tive a ideia, já
praticamente toda formada em fevereiro de 2013, eu me senti com sorte
por ter me deparado com uma história tão legal e só
esperava que eu fosse bom o suficiente para não estragá-la.
É claro que surgiram algumas dúvidas pelo caminho (elas
sempre surgem), mas eu estava muito mais confiante sobre Na
Escuridão da Mente do que eu estive sobre qualquer um de
meus romances anteriores. Ainda assim, quando eu terminei de
escrever, meu agente e eu tivemos discussões muito francas
sobre as minhas vendas anteriores serem um obstáculo a ser
superado para vendermos o livro [para editoras]. E o processo de
negociar o livro com editores teve alguns altos e baixos. Para mim,
um dos melhores momentos nesse processo de submeter os livros aos
editores aconteceu uma semana depois de começarmos a enviar o
manuscrito. Meu agente recebeu uma ligação, tarde da
noite, de um editor que disse: “eu acabei de ler a cena da língua
e precisava ligar para alguém só para ouvir sua voz”.
Talvez tenha sido aí que eu realmente soube que tinha algo
bom...
FT: Que impacto o Prêmio
Bram Stoker (melhor romance de 2015) teve em sua carreira e na
trajetória do livro?
PT: Foi uma grande
honra conquistar o Prêmio Bram Stoker, é claro. Mas não
tenho certeza de que possa quantificar isso em vendas de livros. O
que eu posso dizer é que quando Stephen King tuitou sobre como
o livro “o tinha assustado muito” em agosto de 2015, isso sim foi
um divisor de águas. As vendas do livro cresceram muito depois
desse comentário surpreendentemente gentil [de King] e o isso
renovou o interesse na novela entre críticos e jornalistas
também.
FT: Como foi essa história do tweet de King?
PT: Logo depois da publicação de Na Escuridão da Mente foi publicado, em junho de 2015, eu soube que Stephen tinha uma cópia do livro. Eu esperava que ele o lesse e gostasse, mas eu também sabia que ele estava atolado em livros enviados por editoras. Quando ele tuitou sobre o livro em agosto, eu fui totalmente pego de surpresa e, honestamente, sua leitura e resposta ao livro é um dos pontos altos da minha carreira. Não tenho vergonha de admitir que fiquei muito emocionado quando eu vi seu tweet pela primeira vez. Desde então, nós trocamos alguns emails e ele é uma pessoa muito pé-no-chão e generosa.
FT: Os direitos
cinematográficos de Na Escuridão da Mente foram
comprados pela Focus Features. Tem alguma novidade sobre esse
processo? Sabe quando podemos esperar assistir essa história
nas telas dos cinemas?
PT: O processo foi
descrito para mim como “lentidão de Hollywood”. O roteiro
ainda está sendo trabalhado. Não tenho certeza de
quando eles planejam começar a filmar. Acredito que assim que
o roteiro for finalizado, as coisas andarão muito mais
rapidamente.
FT: Você disse
numa entrevista anterior que o fracasso comercial de seu segundo
romance No Sleep Till Wonderland (inédito no Brasil)
teve um impacto terrível sobre você e que você
ficou sem escrever nada por quase um ano. Naquela época, você
chegou a pensar em abandonar essa carreira? O que te fez superar
isso?
PT: Eu penso em
desistir pelo menos duas vezes por mês! Isso é parte
daquela dúvida interior que usualmente todo escritor tem que
lidar, eu creio. No Sleep Till Wonderland foi um livro
essencialmente morto desde a sua publicação, sem
qualquer esforço de divulgação por parte da
editora e com, àquela altura, a Amazon brigando com a
Macmillan e tirando todos os livros por uma semana (que, por acaso,
foi a semana de lançamento do meu livro). O livro não
teve muita chance de sucesso ou fracasso por seus próprios
méritos. Minha primeira experiência com uma grande
editora foi, francamente, muito frustrante e desencorajadora. E eu
deixei que isso me afetasse. Que realmente me afetasse. Depois do
fiasco de No Sleep Till Wonderland, fiquei um pouco ressentido
mas eu continuei escrevendo de teimosia. Quando eu parei de sentir
pena de mim mesmo, eu descobri que ainda havia histórias que
eu gostaria de contar. Consegui publicar uma coletânea de
contos, um romance antigo e um romance infanto-juvenil [este em
parceria com outro autor] através da Chizine Publications
(uma excelente editora independente do Canadá). No momento em
que comecei a escrever Na
Escuridão da Mente,
já era hora de tentar grandes editoras novamente. E eu não
poderia estar mais feliz com a William Morrow e minha incrível
editora Jennifer Brehl.
FT: Depois de Na
Escuridão da Mente, você
já publicou outro romance de terror, chamado Disappearance
at Devil's Rock. O que vem a
seguir?
PT: No outono passado,
eu assinei um contrato de três livros com a William Morrow.
Estou, nesse momento, escrevendo um romance chamado The Four,
que será minha investida no subgênero “invasão
de domicílio”. Eu realmente não gosto da maioria dos
livros/filmes sobre invasão de domicílio, o que me
deixa mais empolgado para ver se consigo escrever algo que eu goste.
Esse romance deve ser publicado em meados de 2018. No ano que vem,
também haverá uma coletânea de contos chamada
Growing Things, que é o título de uma história
que Marjorie conta para Merry em Na
Escuridão da Mente.
Também está previsto um novo romance para 2020, se tudo
correr bem.
FT: Qual sua história
de terror preferida (seja ela um romance, um conto ou um filme)?
PT: Uma só? É
impossível! Ok, tudo bem. O filme O Enigma de Outro Mundo
(The Thing, 1982), de John Carpenter, continua sendo meu
preferido. É um filme tão intenso, que brinca com a
ambiguidade antes que horrores mais viscerais explodam na tela. Ainda
assim, eu penso que as partes mais profundas e tocantes são
aquelas sutis e perturbadoras, que nos afeta ao longo do filme e de
nossos dias: quem é realmente essa pessoa que está ao
meu lado? Dá para confiar em alguém? Eu sou confiável?
Como eu vou superar isso? Como alguém pode superar isso?
FT: Sinta-se à
vontade para mandar uma mensagem para os fãs brasileiros.
PT: Espero que vocês
curtam o livro se tiverem a chance de lê-lo. Marjorie e Merry
dizem “Oi”.
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INTERVIEW WITH PAUL TREMBLAY, THE AUTHOR WHO SCARED THE HELL OUT OF STEPHEN KING
FT: A Head Full of
Ghosts will be published in Brazil by Bertrand (an imprint of
the largest brazilian publishing house Editora Record). Brazil is a
tough market for horror literature and just a small number of foreign
authors manage to be published here. How do you feel about it?
PT: Well, now I’m
nervous! I’m excited and deeply honored to be published by
Bertrand/Editora Record. I do hope that readers of all kinds will
connect with the dark, literate story about a family in crisis, a
story that comments on the horror genre but also on the affect that
pop culture has on all of us.
FT: Tell us about your
book. What can the brazilian readers expect from AHFoG?
PT: Let’s call it a
postmodern, skeptical, possession/exorcism novel. Twenty-three-
year-old Merry Barrett is being interviewed by a best-selling writer,
recounting the events that swept through her house and family fifteen
years prior. Her older sister Marjorie was fourteen and may have been
suffering from a schizophrenic, psychotic break, or (as her father
and others believed) she was possessed. Her parents, desperate for
help and for money (the father had been unemployed for more than a
year), allow a reality TV crew to document their lives in the weeks
leading up to an attempted exorcism by a Catholic priest. As one
might imagine, things do not go well. There is also a blogger who
intrudes upon the novel’s narrative and she acts as a one-woman
Greek chorus, questions the veracity of the reality TV program, and
deconstructs the goings on within the novel and within general horror
narratives. All the while, the emotional heart of the novel is rooted
in the heartbreaking relationship between the two sisters. It is my
hope that readers connect and empathize with the sisters. I also hope
the ambiguous nature of the narrative, of whether or not something
supernatural occurred, will linger beyond the final page.
FT: AHFoG isn't your first novel. You have a long writing career, with
about a dozen books published as author or editor. But apparently,
it's your most succesful piece to this date, published by a giant
corportation (HarperCollins), with a Bram Stoker Award and foreign editions. When did
you realize the story had this huge potential?
PT: I hope this doesn’t
sound obnoxious, but almost from the starting point of the novel I
thought I was onto something good. Now, I had no idea if that would
translate into sales and such as that’s beyond my control and
beyond my fortune-telling powers. When the idea hit me, almost fully
formed in February of 2013, I felt lucky to have stumbled upon a
really cool story and hoped I was good enough to not screw it up. Of
course there were doubts along the way (there always are), but I was
more confident about AHFoG than I was for any of my previous novels.
Still, when I finished, my agent and I had frank discussions about my
previous sales record being a hurdle we’d have to overcome in
selling the book, and the process of pitching the book to publishers
did have some dizzing ups and depressing downs. A favorite moment of
mine during the submission process (besides the actual sale of the
book, of course) was a week after the novel was initially sent out,
my agent got a phone call, late at night, from an editor who said, “I
just read the tongue scene and I had to call someone just to hear
their voice.” Maybe that was when I knew I had something good…
FT: What difference did
the 2015 Bram Stoker Award make to your career and to AHFoG's career?
PT: It was a great
honor to win the Bram Stoker Award, of course. But I’m not sure I
can quantify a boost the book received. I can tell you that when
Stephen King tweeted about how the book “scared the living hell”
out him in August of 2015, that was a game changer. Sales of the
novel spiked after his amazingly kind tweet and there was a renewed
interest in the novel with reviewers and interviewers as well.
FT: Tell me about this King tweet...
FT: Tell me about this King tweet...
PT: Shortly after AHFoG was published in June of 2015, I'd heard that Stephen had a copy of the book. I hoped he would read it and like it, but I also knew that he was swamped with books sent from publishers and the like. When he tweeted about the book in August, it totally caught me by surprise, and honestly, his read and response to the book is one of the highlights of my writing career. I'm not ashamed to admit that I got emotional when I first saw his tweet. We've exchanged a few emails since then and he's a very down-to-earth, generous person.
FT: AHFoG movie rights
had already been purchased by Focus Features. Do you have any update
on that? When can we expect to see this story on the screen?
PT: The process has
been described to me, cheerily so, as “Hollywood slow.” The
screenplay is still being worked on as I type. I’m not sure when
they plan to start shooting. I think once the screenplay is finished
to everyone’s satisfaction, things will move much more quickly.
FT: You said in a
previous interview that the lack of commercial success of your second
novel No Sleep Till Wonderland had a terrible effect on you and
that you wrote nothing for about a year because of that. Did you
think about giving up your career back then? And what made you
overcome that?
PT: I think about
giving up at least twice a month! Which is part of the usual
self-doubt that all writers deal with, I think. No Sleep Till
Wonderland, a book that was essentially dead on arrival with no push
coming from the publisher and with, at the time, Amazon feuding with
Macmillan and pulling all books off of the site for a week (which
just happened to be the week my book was released), didn’t get much
of a chance to succeed or fail on its own merits. My first go round
with a big publisher was, frankly, a very frustrating and
discouraging experience, and I let it get to me. Really get to me.
After the NSTW debacle, I sulked for a bit but I stubbornly kept
writing. After I stopped feeling sorry for myself I found there still
were stories that I wanted to tell. I managed to publish a short
story collection, an older novel, and a co-written YA novel with
Chizine Publications (an excellent independent publisher in Canada).
When I got around to writing AHFoG, it was time to try the larger
publishers again, and I couldn’t be happier with William Morrow and
my amazing editor Jennifer Brehl.
FT: After AHFoG, you
have already published another horror novel called Disappearance at
Devil's
Rock. What's next?
PT: This past fall I
signed a three book deal with William Morrow. I’m currently working
on a novel called The Four, which will be my take/twist on the “home
invasion” kind of stories. I really don’t like many of the home
invasion books/movies, which makes me more excited to see if I can
write one that I would like. That novel is due to be published in
summer 2018. The next year will see a short story collection called
Growing Things, the title story is the story that Marjorie tells
Merry in AHFoG. And then another novel to appear in 2020, if all goes
well.
FT: What's your
favorite horror story (it may be a novel, a short story or a movie)?
PT: One? That’s
impossible! Okay, fine. John Carpenter’s The Thing (1982) remains my
favorite. It’s such an intense movie that toys with ambiguity
before the visceral horrors explode on the screen. Still, I think the
deepest, most affecting part are the subtle and disturbing questions
that nag at us throughout the movie and in our everyday lives: who is
this person next to me really? Can anyone be trusted? Can I be
trusted? How am I going to live through this? How does anyone live
through this?
FT: Feel free to add
any message to the brazilian fans.
PT: I hope you enjoy
the novel if you get a chance to read it. Marjorie and Merry say,
“Hi.”