FÚRIA LUPINA - BRASIL, de Alfer Medeiros: Resenha de livro

Fúria Lupina - Brasil, do luso-brasileiro Alfer Medeiros, é um livro que mistura ação, aventura, drama e terror (com cenas bastante gráficas). Como se pode inferir pelo título, trata-se de uma história sobre lobisomens.

Nesse romance, no entanto, o mais importante não é o medo que essas criaturas impõem aos humanos, mas sim as vidas e ações dos próprios lobisomens.

Fúria Lupina é um livro em que a ação e os dramas dos homens-lobo são mais importantes do que o terror, que está bastante presente no livro, mas que é apenas um recurso marginal, que dá um sabor extra à história. As cenas de terror são bem gore.

O grande diferencial da história de Alfer Medeiros é que lobisomens não são apresentados apenas como máquinas de matar, mas sim criaturas dotadas de uma ética (ainda que uma ética duvidosa) e pautadas por objetivos claros (mais do que por puro instinto animal).

Em Fúria Lupina - Brasil, os lupinos são apresentados como uma raça extremamente organizada, que se articula em grandes grupos. Ficamos sabendo da existência de pelo menos duas organizações multinacionais formadas por essas criaturas: a Alcateia Global, que visa integrar e proteger os homens-lobo do extermínio, e a Green Death, uma organização radical de defesa da natureza.

A primeira parte do livro é composta por várias histórias, aparentemente independentes, que, aos poucos, vão se entrelaçando.

Teve duas coisas que gostei bastante no livro. Uma delas é o uso de elementos do folclore nacional. Curupira, saci-pererê e boto cor-de-rosa, por exemplo, fazem aparições como figurantes no livro.

A outra é que os lobisomens de Alfer se metamorfoseiam em espécies lupinas locais. Os noruegueses, por exemplo, se transformam em lobos cinzentos eurasianos, os portugueses, em lobos ibéricos, e o brasileiro, em lobo-guará (que apesar do nome tem menos parentesco biológico com o lobo comum do que um cachorro poodle).

Só acho que o autor pecou em não deixar claro o papel que a origem geográfica tem na biologia dos homens-lobo. Afinal, os lobisomens têm ancestrais comuns ou se originam a partir de uma interação do homem com os lobos em cada ambiente geográfico. Fiquei bastante curioso para entender como o gene (ou a magia) do lobo-guará foi parar nas veias de um dos lobisomens.




Alfer Medeiros também faz várias referências a clássicos do terror, como Bram Stoker (um de seus personagens se chama Hell Vansing, um jogo de palavras com o cientista holandês de Drácula), Edgar Allan Poe e o mestre Stephen King (Maine é um dos cenários do livro).

Quem curte filmes com a levada de Anjos da Noite (sem os vampiros, é claro), de 2003, e Van Helsing, de 2004, certamente vai adorar Fúria Lupina - Brasil. Altamente recomendável para quem gosta de lobisomens, já que o autor se esmera bastante nas explicações científicas e históricas sobre essas criaturas (é quase um tratado sobre licantropia).

E mesmo para quem não curte homens-lobo (como eu, diga-se de passagem), é um livro que vale a pena ser lido. Alfer tem um estilo narrativo muito envolvente e conseguiu me fisgar mesmo num tema que eu particularmente não gosto. Ele sabe contar uma boa história (ou no caso desse livro, várias boas histórias). Seu ritmo lembra bastante o de André Vianco, mas Alfer Medeiros tem uma escrita mais aprimorada.

O enredo de Fúria Lupina, por exemplo, é bem mais convincente e com menos furos do que o clássico de Vianco Os Sete, por exemplo.

Fui positivamente surpreendido pela história. Ah! Um alerta, como George R.R. Martin brasileiro, Alfer não tem qualquer apreço à vida de seus personagens. Então, não se apegue a nenhum deles (seu favorito pode morrer no meio do livro!).

O livro tem uma continuação: Fúria Lupina - América Central.

O livro versão e-book está disponível na Amazon.