TRIPULAÇÃO DE ESQUELETOS, de Stephen King: Um olhar sobre o livro

Tripulação de Esqueletos (Skeleton Crew) foi a segunda coletânea de contos, publicada originalmente em 1985, de Stephen King. Assim como seu antecessor Sombras da Noite (Night Shift), de 1978, é uma coletânea basicamente de terror, diferentemente das coletâneas mais recentes como The Bazaar of Bad Dreams (2015) e Ao Cair da Noite (Just After Sunset, de 2008), que misturam contos de terror com alguns de drama, policiais etc.

São 20 contos, dos quais apenas um era inédito na época da publicação: Entregas Matinais (Leiteiro n°1). Os demais já tinham sido publicados anteriormente em revistas e antologias.

Além disso, há dois poemas que também nunca tinha sido publicados, Paranóico: Um Canto e Para Owen. Eu não gosto de poemas em coletâneas de contos de terror, mas Paranóico até passa por ser algo que se ajusta ao tema da coletânea.

Para Owen, por sua vez, que é uma “viagem” de King durante um passeio na feira com seu filho Owen, é péssimo. Eu sei que King o fez, na melhor das intenções, em homenagem ao filho, mas é um trabalho de literatura terrível. Muito ruim mesmo. Além disso, nem terror é. É algo que você compartilha apenas com seu filho mesmo.

Tripulação de Esqueletos é aberto pelo excelente O Nevoeiro, que serviu como um filme de mesmo nome, de 2007, e depois foi até publicado sozinho em um livro. Trata-se de um misterioso nevoeiro que aparece pelo nordeste dos Estados Unidos, espalhando criaturas monstruosas. O pai e seu filho ficam presos no minimercado junto com outras várias pessoas.

O conto tem a marca de King, com um projeto militar mal-sucedido, monstros, mortes sanguinolentas, conflitos interpessoais e dramas familiares. Quem viu o filme, no entanto, vai achar que o final do conto é meio morno, uma vez que o final cinematográfico é bem mais heavy metal. É a maior história da coletânea (classificada como novella).


Vovó, na minha opinião, é outro ótimo conto. Na verdade, para mim, é uma das melhores histórias de Stephen King. Baseado na mitologia de Chthulu, de H.P. Lovecraft, o conto fala sobre um menino é deixado sozinho com sua avó, que sofre de demência, porque sua mãe precisa visitar o outro filho que está internado no hospital.

O menino começa então a ficar com medo. Ele sempre teve medo da avó e conta as horas para a volta de sua mãe. Quando ele resolve dar uma verificada na idosa, que está deitada em seu quarto, o garoto descobre que ela está morta.

Então bate um desespero ainda maior. Ele não quer parecer um bebê chorão e tenta lidar com seu medo infantil. Então, ele se lembra de uma conversa que ele ouviu, certa vez, entre seu tio e sua mãe. Algo sobre um livro de magia negra a que seus avós recorreram para poderem conceber um filho.

O legal do conto é que você não sabe se o conto se trata apenas de um medo infundado do menino ou se algo vai acontecer. O conto foi usado como base para o filme Mercy (2014).

Os contos-gêmeos Entregas Matinais (Leiteiro n°1) e O Carrão: Uma História sobre o jogo da Lavanderia (Leiteiro n°2) também são muito legais. Em comum, eles só têm o leiteiro psicopata como personagem, mas são premissas completamente diferentes.


Capa da 1a. edição americana
A coletânea contém ainda os interessantes A Balsa (sobre amigos que ficam presos em uma plataforma flutuante em um lago, enquanto uma bizarra criatura amorfa começa a comê-lo) O Atalho da Sra. Todd (uma estranha história sobre a obsessão de uma mulher em encontrar trajetos cada vez mais curtos para chegar de uma cidade a outra) e o assustador A Imagem do Ceifeiro (sobre pessoas que desaparecem depois de olhar para um espelho amaldiçoado).

É um dos melhores livros de King em termos de dark fiction. E é uma ótima entrada para o mundo tenebroso do escritor.

Observação: Eu li a edição da Francisco Alves, de 1987, e a tradução é péssima. Além de haver inúmeros erros tipográficos. Não sei dizer se a edição da Suma tem uma tradução melhor.

HISTÓRICO DE PUBLICAÇÃO:
O livro foi publicado originalmente em 1985, nos Estados Unidos, pela Putnam. No Brasil, o livro chegou em 1987, pela Editora Francisco Alves. Atualmente, os direitos de publicação estão com a Suma de Letras.