TRATADO OCULTO DO HORROR, organizado por Alfer Medeiros: Resenha de livro

Tratado Oculto do Horror (2016), organizado por Alfer Medeiros, é mais uma coletânea de terror da Editora Andross, uma casa publicadora que tem a interessante proposta de dar oportunidade a autores novatos, através da publicação de seus contos em antologias com centenas de exemplares.

A editora publica coletâneas desde 2004. E, desde 2007, há pelo menos uma coletânea de terror publicada pela Andross (em alguns anos há mais de uma).

Tratado Oculto do Horror é um grande calhamaço com 416 páginas, que reúne 70 contos de um igual número de autores. O grande ponto positivo da obra é que todas as histórias são bem diferentes umas das outras, o que prova que a mente humana é uma fonte inesgotável de ideias (se quiser comprar clique aqui).

Alguns contos são bastante originais, enquanto outros abordam assuntos batidos de uma forma diferente. São histórias que abordam temas como demônios, monstros, lobisomens, zumbis, loucura humana, vingança e casas mal-assombradas. Tem até uma menção aos mitos de Cthulhu, de H.P. Lovecraft. Surpreendentemente, não há contos vampirescos.

O autor deste blog também tem um conto publicado no livro, chama-se Zé do Peixe Quer o Seu Voto, um conto de terror envolvendo campanhas políticas, cujo personagem principal, o eterno vereador Zé do Peixe, adora fazer média com o eleitorado durante as eleições.

Entre os contos que mais me surpreenderam estão O Pecado do Morto, Boi da Cara Preta, O Poço, Convidado Especial para o Jantar, Floresta dos Esquecidos, Sobre Trailers e Maldições e A Horda Alada.

São histórias que me cativaram principalmente por terem buscado o terror de uma forma diferente. O Pecado do Morto, de Gabriel T. Machado, por exemplo, conta a história de um jovem que depois de cometer uma grande pecado, passa a ser perseguido por sons e visões do além.

Ele descobre, então, em um fórum da internet, que existe uma forma de se livrar desses incômodos. Basta sussurrar seu pecado a alguém que acabou de morrer. O pecado será levado para o céu e a pessoa será perdoada. Mas algo dá errado nesse ritual.

O conto tem uma narrativa não linear que torna a leitura um pouco pesada. Algumas vezes, é preciso voltar a ler para não se perder na lógica do conto, mas a história é muito legal. O final não poderia ser melhor.

Boi da Cara Preta, de Isabela Vieira, recorre a uma tradicional canção infantil para criar um macabro conto infantil. O conto começa com uma mãe cantando a música sobre o boi que pega crianças com medo de careta. Mas, aos poucos, o leitor vai sendo convidado a refletir na possibilidade do boi realmente existir. O conto é sanguinário e embrulha o estômago, apesar do final ser um pouco misterioso.



O Poço, de Rodrigo Rodrigues, tem uma premissa muito simples: o do espírito maligno que exige sacrifícios. Um velho descobre que um desses espíritos, que gosta muito de carne, habita no poço de sua fazenda e que é possível ter seus desejos atendidos se fizer oferendas para a criatura. Ele começa com um porco, mas isso não a satisfaz.

O conto tem aquela atmosfera de história contada em torno da fogueira. A linguagem e a narrativa são simples. E você fica com medo da criatura. O final dá a entender que o velho fazendeiro foi longe demais.

Convidado Especial para o Jantar, de Ton Botticelli, é outro conto envolvendo uma criatura demoníaca. O conto traz a história de um Nicolas, que resolve preparar um jantar especial... para alguém que ele venera. Ele está acompanhado de uma mulher. Só que ela não está ali, esperando o convidado de Nicolas, por vontade própria. O que é legal é que Botticelli não diz quem é o convidado, então você vai descobrindo aos poucos. Esse é um ponto muito positivo do conto. Aguarde também uma reviravolta no final.

Em Floresta dos Esquecidos, Paulo Gonschior leva o leitor a se perguntar o que está acontecendo. Por que aquela menina está vagando por aquela floresta? O que a levou até ali? O que a espera naquele local horrível? Afinal, ela está na floresta ou em seu quarto? Ela está viva ou morta? Só no final, você desvenda o mistério. Gonschior faz um belo trabalho de descrição do estado de confusão mental em que a menina se encontra.

Sobre Trailers e Maldições, de Hedjan C.S., é uma história que trata de... um trailer e uma maldição. O grande trunfo do autor foi unir uma situação simplória do cotidiano (parar num trailer de rua para lanchar) com uma história macabra (a maldição propriamente dita, que envolve uma casa). É outra daquelas que se parecem com contos para se ouvir ao redor de uma fogueira.

Por fim, A Horda Alada, de Rodrigo Luiz da Silva, envolve um segredo familiar. A história começa com um avô contando uma história de terror para seu neto, sobre uma vez que ele presenciou um ataque de monstros alados a sua fazenda, quando ele era pequeno. Na história, o vovô conta que seu irmão foi levado pelas criaturas voadoras. O final é surpreendente e bem macabro.

Há vários outros contos que merecem ser citados. A seguir seguem algumas sinopses, que mostram como o livro é diverso: Um Doce Envelhecer dá um irônico destino a uma mulher egoísta e má; Fragmento do Demônio, sobre um psicopata que tem um fim merecido; Boris mistura humor e dark fiction em um conto sobre a morte; Nosso Medo aborda o terror da violência doméstica sob a imaginação fértil e corrompida de uma criança; A Carta do Diabo, sobre a incessante busca do homem em buscar um responsável pelo mal; Sangue e Prata, um conto vitoriano sobre lobisomens; Mãe Patrícia, sobre um orfanato mantida por uma mulher louca ao estilo de Annie Wilkes; Flores em Requiém, sobre um desastre de proporções épicas baseado em fatos reais; Guardião, sobre uma possessão animal; Três da Manhã, sobre um livro amaldiçoado; Reflexos, sobre o fantasma de uma garota que aparece para revelar segredos em uma lanchonete; Ele se Lembrou Dela traz uma visão diferente sobre um apocalipse zumbi; Espantos, sobre um escritor que sofre com visões macabras; V-Rod, sobre um ex-presidiário que rouba uma moto amaldiçoada; e A Coisa que Espreita no Escuro, sobre o desespero de se encontrar com  uma criatura na escuridão enquanto sua única fonte de luz está se esgotando.