FANTASMAGORIAS, de R.F. Lucchetti: Resenha de livro

Fantasmagorias (Ed. Devaneio, 2013) é um livro que reúne contos (e um poema) de Rubens Francisco Lucchetti (ou R.F. Lucchetti), o decano da literatura de terror no Brasil. Mas não é simplesmente uma coletânea de pequenas histórias. É, principalmente, pelo menos a meu ver, uma homenagem às antigas revistas que publicavam contos e quadrinhos de terror no Brasil, no século passado.

Para começar, a obra, de 96 páginas, conta com ilustrações de Emir Ribeiro. São desenhos em preto e branco, com traços de HQ. Além disso, o texto é disposto em duas colunas, por página, como se fosse mesmo uma revista. Por fim, o formato (10,5 x 27,5 cm), é o mesmo de revistas.

O livro, na verdade, reúne contos antigos de Lucchetti, que foram reescritos para a edição. E essa, aliás, é uma característica muito marcante do papa do pulp. Sempre quando relança suas obras, Lucchetti busca reescrevê-las de forma a aprimorá-las.

São 13 contos muito curtos e um poema (Anjo da Noite). O maior dos contos, O Fantasma da Prima Lavínia, deve ter ocupar apenas umas seis ou sete páginas. O menor deles, Sino de Natal, ocupa metade de uma página.

Todos têm uma característica dark, mas nem todos são exatamente de terror. Gênesis, por exemplo, é um scifi futurístico que se passa em uma São Paulo, mil anos depois do descobrimento do Brasil, em um mundo dominado por robôs, os cíbores. Outro não-terror é Um Perfil nas Trevas.

Os dois, na minha opinião, não se encaixam muito na proposta da coletânea. Tanto Gênesis quanto Um Perfil nas Trevas terminam de uma forma muito aquém do que se espera de Lucchetti.

Um Perfil nas Trevas é a história de um jornalista que, a caminho de uma entrevista, resolve fazer uma parada rápida em uma cidade, para conhecer a esposa de seu amigo cego. Mas o narrador nunca vê a mulher, porque todo o encontro se passa na escuridão.



Quem lê a história, imagina que algo vai acontecer a qualquer momento. O leitor fica imaginando quem seria a mulher misteriosa, que se oculta na escuridão de sua casa. Ao longo do conto, quem é fã de terror certamente vai ficar imaginando que segredo obscuro essa mulher esconde.

Mas a história termina de forma morna, frustrando todas as expectativas que vão sendo muito bem construídas ao longo da narrativa de Lucchetti. Enfim, o conto é muito bem escrito. O clima de suspense e mistério são muito legais, mas o final compromete.

Entre os contos de Fantasmagorias que me agradaram, o mais interessante é, de longe, O Lago. Um daqueles contos de terror com uma premissa estranha, que costumam chamar a minha atenção. A própria narrativa é muito diferente, já que é uma espécie de monólogo.

O Lago é escrito na perspectiva de uma senhoria que tem uma grande casa e aluga seus quartos para diferentes pessoas. Já o leitor é colocado na perspectiva da pessoa que vai alugar o quarto. A impressão que temos é que a dona da casa é uma falastrona, que não para nem para respirar e nem dá chance do locatário falar qualquer coisa.

A história envolve um misterioso lago nos fundos da propriedade e um pintor que morou naquele quarto e morreu depois de ficar muito tempo olhando para aquelas águas.

Em Romeu e Julieta, Lucchetti oferece um final alternativo um tanto macabro para a famosa peça teatral de William Shakespeare. Outro conto que me agradou foi Os Bonecos de Bruno, escrito em formato de roteiro cinematográfico, e mostra a história de um velho, que tem um museu com figuras humanas feitas de pedra.

Segundo o velho, aqueles homens eram pessoas de verdade, que viraram pedra depois de olhar para uma cabeça de Medusa que Bruno encontrou em uma viagem à Grécia e trouxe para sua casa.

Há ainda duas releituras de dois contos publicados anteriormente, na coletânea Noite Diabólica. Ambos mantêm o bojo do enredo, mas trazem alterações significativas em relação aos personagens e à situação em que a história se desenrola. Feiticeira é uma variação de No Domínio do Mistério. E O Monstro de Ouro Verde é uma adaptação de O Monstro.

Enfim, o livro tem a marca pulp fiction de Lucchetti. Contos curtos, rápidos, com mais ação do que divagação. A maioria deles ambientados em mansões em cenários gótico-europeus.

Quem curte a narrativa simples e eficaz de Lucchetti, certamente ficará satisfeito com Fantasmagorias.