AO CAIR DA NOITE, de Stephen King: Resenha de livro

Ao Cair da Noite (Ed. Suma de Letras, 2011) foi originalmente publicado em 2008, com o título Just After Sunset pela editora Scribner. É o quinto livro de contos de Stephen King e reúne 13 histórias, das quais todas tinham sido anteriormente publicadas, em algum formato.

Apesar do título remeter ao medo através do uso da palavra "noite" (ou "sunset", inglês), essa coleção de contos é uma das mais leves de King, em relação ao terror. A maior parte dos contos poderiam, sim, ser qualificada como de terror, mas um terror light, quase subjacente à trama.

A melhor história e, sem dúvida, aquela de terror mais pesado é N., baseada no romance o Grande Deus Pã, de Arthur Machen. Sheila acredita que o suicídio de seu irmão, o médico psiquiatra Dr. Bonsaint, tem relação com as sessões que ele teve com um paciente identificado apenas como "N", que sofre de transtorno obsessivo compulsivo.

O conto é, em sua maior parte, escrito no formato de prontuário médico, em que o Dr. Bonsaint relata suas sessões com "N". Durante as sessões, "N" conta que encontrou um círculo de pedras (ao estilo de Stonehenge) chamado de Ackerman Field e que esse local pode ser o portal para um outro mundo. E que um monstro terrível está tentando usá-lo para chegar até o nosso mundo.

O estilo epistolar combina muito com o terror. A história também é muito bem construída, com o clima de suspense e medo crescendo gradativamente. É, não só a melhor história do livro, como um dos melhores contos de King.

Antes de ser publicado em Ao Cair da Noite, N. apareceu em uma websérie de HQ animada. A websérie, em 25 capítulos, é ainda melhor do que o conto e pode ser vista no YouTube.

O Sonho de Harvey é, para mim, a segunda melhor história da coletânea. É também um terror bem dark. O conto todo se desenrola como se fosse apenas um drama familiar, de um casal de terceira idade em crise, depois que suas filhas deixaram sua casa para morar sozinhas. Mas, então, o marido, Harvey, começa a contar um sonho que ele teve.

A esposa começa a ficar com medo do sonho de Harvey, mesmo antes dele começar a contá-lo. Mas, à medida em que Harvey continua com sua narrativa, a esposa vai percebendo que o sonho tem conexão com a realidade. É um conto dark porque lida com um dos maiores pesadelos que o ser humano pode ter. Mas não posso dizer o que é, senão estraga a surpresa do conto (e grande parte da graça do conto jaz em seu final).

Outros bons contos de terror do livro são O Gato dos Infernos, sobre um idoso que contrata um matador de aluguel para matar o seu gato, que ele acredita ser uma encarnação do mal, e As Coisas que Eles Deixaram para Trás, uma história de fantasmas sobre as vítimas do atentado de 11 de setembro às Torres Gêmeas.



Willa é uma história clássica sobre espíritos que não sabem que morreram. Não é excepcional, mas causa uma angústia e uma melancolia. Já Tarde de Formatura é o conto mais curto do livro e aborda, de forma bem interessante, um cenário pré-apocalíptico. Outro conto de terror sobrenatural é New York Times

A Corredora e No Maior Aperto são contos de terror psicológico muito parecidos em sua premissa: uma pessoa é colocada em uma situação perigosa, precisa se livrar dela e se vinga do algoz. A Corredora envolve um típico arquétipo de King, a mulher frágil que enfrenta as adversidades para se livrar da morte, já visto em histórias como Love (Lisey's Story), Rose Madder, Gigante do Volante (Big Driver), Eclipse Total (Dolores Claiborne) e Jogo Perigoso (Gerald's Game).

No Maior Aperto é uma espécie de O Cadillac de Dolan, só que, em vez do carro enterrado na rodovia, o protagonista tem que se livrar de um banheiro químico com paredes de metal.

Enfim, esses são os contos que, para mim, mais valeram à pena. O livro como um todo é uma leitura bem agradável, apesar de não ser a melhor coletânea de King.

HISTÓRICO DE PUBLICAÇÃO:
O livro foi publicado originalmente nos Estados Unidos, em 2008, pela Scribner. No Brasil, foi publicado pela Suma de Letras.