Recentemente eu vi dois filmes argentinos de terror muito bons no Netflix. E um não podia ser mais diferente do outro. Isso prova que, assim como no Brasil, há uma safra interessante de películas de terror surgindo no nosso vizinho do sul.
Resurrección (de 2015), escrito e dirigido por Gonzalo Calzada, é excelente. Muito bem feito em todos os aspectos, tanto na técnica quanto na história. O filme se passa em 1871 e, de forma muito interessante, utiliza a epidemia de febre amarela espalhada durante a Guerra do Paraguai como pano de fundo para uma história mefistotélica.
Atendendo a um chamado divino, o padre Aparicio resolve se deslocar de seu mosteiro para a cidade de Buenos Aires, cuja população está sendo dizimada por uma estranha praga. Mas, antes de chegar à capital, ele faz uma parada na fazenda de sua família.
Ao chegar lá, Aparicio percebe que há algo esquisito. Os criados estão deixando o local, com alguns pertences roubados da casa. Ele, então, descobre a cunhada e a sobrinha, a pequena Remedios, trancadas na capela da fazenda. Elas estão assustadas, com medo que Aparicio transmita a praga para elas.
Ele fica então sabendo que seu irmão, dono da chácara, está de cama, prestes a morrer afetado pela doença. Ele se apressa para lhe oferecer a extrema unção. Só que, antes de morrer, Edgardo arranha Aparicio.
Durante praticamente todo o filme, vemos o padre sendo consumido pela praga, enquanto luta para manter sua fé e ouve a insistentes pedidos de socorro feitos por sua sobrinha, para que ele a salve. Ao mesmo tempo, ficamos sabendo que há algo estranho na casa.
A coisa mais interessante do filme é que o roteiro não recorre a clichês fáceis do terror, apesar de lançar mão de uma estética claramente gótica, com cenários cinzas, uma casa antiga, símbolos religiosos, chuvas e trovoadas e visões fantasmagóricas.
Ao assistir ao filme, você percebe que há um segredo mais tenebroso naquela casa além da assustadora peste. O interessante é que o roteiro vai te levando a uma falsa expectativa em relação a esse segredo. Apenas no finalzinho da história, você descobre o que há de errado com as pessoas naquela casa.
Nesse sentido, o filme lembra um pouco os clássicos Os Outros (The Others, 2001) e Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), não no sentido de ter o mesmo final, mas no sentido de frustrar as conclusões que espectadores de filmes de terror e mistério adoram tentar antecipar. Para mim, no entanto, Resurrección é ainda mais bem sucedido em manter o segredo até o final.
É uma grata surpresa ver latinoamericanos produzindo filmes melhores e com enredos mais complexos e ricos do que aqueles, em geral, oferecidos por Hollywood.
O único furo do filme refere-se justamente à febre amarela, uma vez que a doença é transmitida exclusivamente pelo nosso conhecido Aedes aegypti e não por contato direto entre pessoas. Mas, como o próprio Gonzalo já revelou em entrevistas, ele não se preocupou com questões factuais, já que o filme é uma "fantasia visual" e não um "drama realista".
A película estreou em novembro de 2015 no Buenos Aires Rojo Sangre Film Festival, mas depois passou pelo circuito comercial argentino no início do ano. Uma pena não ter tido o mesmo destino aqui no Brasil.
Vale muito a pena passar uma hora e 40 minutos assistindo ao filme no Netflix.
AVALIAÇÃO GERAL: Imperdível
NÍVEL DE TERROR: Médio
O QUE ESPERAR: Suspense
DADOS DO FILME:
Título original: Resurrección
Subgêneros: Mistério/Sobrenatural
Direção: Gonzalo Calzada
Ano: 2015
País: Argentina
Duração: 102 minutos
Resurrección (de 2015), escrito e dirigido por Gonzalo Calzada, é excelente. Muito bem feito em todos os aspectos, tanto na técnica quanto na história. O filme se passa em 1871 e, de forma muito interessante, utiliza a epidemia de febre amarela espalhada durante a Guerra do Paraguai como pano de fundo para uma história mefistotélica.
Atendendo a um chamado divino, o padre Aparicio resolve se deslocar de seu mosteiro para a cidade de Buenos Aires, cuja população está sendo dizimada por uma estranha praga. Mas, antes de chegar à capital, ele faz uma parada na fazenda de sua família.
Ao chegar lá, Aparicio percebe que há algo esquisito. Os criados estão deixando o local, com alguns pertences roubados da casa. Ele, então, descobre a cunhada e a sobrinha, a pequena Remedios, trancadas na capela da fazenda. Elas estão assustadas, com medo que Aparicio transmita a praga para elas.
Ele fica então sabendo que seu irmão, dono da chácara, está de cama, prestes a morrer afetado pela doença. Ele se apressa para lhe oferecer a extrema unção. Só que, antes de morrer, Edgardo arranha Aparicio.
Durante praticamente todo o filme, vemos o padre sendo consumido pela praga, enquanto luta para manter sua fé e ouve a insistentes pedidos de socorro feitos por sua sobrinha, para que ele a salve. Ao mesmo tempo, ficamos sabendo que há algo estranho na casa.
A coisa mais interessante do filme é que o roteiro não recorre a clichês fáceis do terror, apesar de lançar mão de uma estética claramente gótica, com cenários cinzas, uma casa antiga, símbolos religiosos, chuvas e trovoadas e visões fantasmagóricas.
Ao assistir ao filme, você percebe que há um segredo mais tenebroso naquela casa além da assustadora peste. O interessante é que o roteiro vai te levando a uma falsa expectativa em relação a esse segredo. Apenas no finalzinho da história, você descobre o que há de errado com as pessoas naquela casa.
Nesse sentido, o filme lembra um pouco os clássicos Os Outros (The Others, 2001) e Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), não no sentido de ter o mesmo final, mas no sentido de frustrar as conclusões que espectadores de filmes de terror e mistério adoram tentar antecipar. Para mim, no entanto, Resurrección é ainda mais bem sucedido em manter o segredo até o final.
É uma grata surpresa ver latinoamericanos produzindo filmes melhores e com enredos mais complexos e ricos do que aqueles, em geral, oferecidos por Hollywood.
O único furo do filme refere-se justamente à febre amarela, uma vez que a doença é transmitida exclusivamente pelo nosso conhecido Aedes aegypti e não por contato direto entre pessoas. Mas, como o próprio Gonzalo já revelou em entrevistas, ele não se preocupou com questões factuais, já que o filme é uma "fantasia visual" e não um "drama realista".
A película estreou em novembro de 2015 no Buenos Aires Rojo Sangre Film Festival, mas depois passou pelo circuito comercial argentino no início do ano. Uma pena não ter tido o mesmo destino aqui no Brasil.
Vale muito a pena passar uma hora e 40 minutos assistindo ao filme no Netflix.
AVALIAÇÃO GERAL: Imperdível
NÍVEL DE TERROR: Médio
O QUE ESPERAR: Suspense
DADOS DO FILME:
Título original: Resurrección
Subgêneros: Mistério/Sobrenatural
Direção: Gonzalo Calzada
Ano: 2015
País: Argentina
Duração: 102 minutos