O que falar da coletânea de contos Noite Diabólica, o primeiro livro de terror de Rubens Francisco Lucchetti? A primeira coisa a dizer é que esse clássico do decano da literatura de terror nacional, de 1963, acaba de ser relançado pela Editora Argonautas.
Nesta segunda edição, separada por mais de 50 anos da original, os editores buscaram manter a identidade da versão de 1963. A capa tem a mesma ilustração e a mesma identidade visual. As ilustrações de Jayme Cortez foram recuperadas e restauradas.
Mas há diferenças. A primeira é o subtítulo. Em vez de Noite Diabólica - Contos Macabros, preferiram trocar o nome do livro para Noite Diabólica - Contos Fantásticos. Na verdade, o nome original tinha mais a ver com o conteúdo do livro do que esse novo título.
A maior diferença dessa edição, no entanto, está nos próprios contos. Além de trazer um conto extra (A Única Testemunha), que não constava na edição de 1963, o novo livro contou com uma revisão extensiva de Lucchetti.
Eu, sinceramente, nunca li a edição original (ela é muito rara, porque está fora de catálogo há décadas), mas credito essa informação ao próprio autor. Segundo Lucchetti, os contos desta edição estão mais próximos dos textos originais, escritos por ele.
De acordo com o autor, quando foram publicados pela Editora Outubro, alguns contos sofreram cortes, o que prejudicou sua qualidade. Além disso, Lucchetti trocou algumas palavras e atualizou a ortografia.
A coletânea contém 18 contos e um poema (Abkar), todos eles de terror. Em geral, o que vemos são histórias com a marca de Lucchetti: textos curtos e objetivos, que optam por explorar os cenários góticos de Inglaterra e Estados Unidos.
Lucchetti ressalta no prefácio que os contos foram escritos em início de carreira e que ele sequer tinha objetivo de publicá-los como contos, então ele diz para o leitor não ter grandes expectativas.
Ele conta que, quando enviou seus textos para a Editora Outubro, seu único objetivo era que suas histórias fossem roteirizadas para quadrinhos. Seu sonho era ver suas histórias desenhadas por Nico Rosso, seu ídolo.
Como não li os textos originais de Lucchetti nem a edição original da Outubro, não posso opinar sobre isso. Mas o que vejo na edição da Argonautas são contos prontos para publicação e não simples argumentos para roteiros de HQ. Talvez Lucchetti os tenha reescrito para esse livro. Realmente não posso opinar.
Pelo menos três dos contos aparecem em outros livros de Lucchetti que já li, mas nenhum deles merece grande destaque. No Domínio do Mistério foi republicado, em uma versão diferente, na coletânea Fantasmagorias (Ed. Devaneio, 2013), com o título de Feiticeira.
Outro conto que aparece, também em uma versão diferente, em Fantasmagorias é O Monstro (que aparece no livro de 2013 com o título de O Monstro de Ouro Verde).
Já Colóquio na Casa do Juiz, que parece mais um pequeno ensaio sobre licantropia do que um conto, é reaproveitado (também com algumas alterações) como uma cena introdutória do livro O Lobisomem (Ed. Fittipaldi, 1995).
Entre os outros 15 contos, os melhores são, sem dúvida, Magda, Um Caso Tenebroso e O Experimento do Doutor Ewers.
O primeiro (Magda) fala sobre um homem que se apaixona por uma mulher mas desenvolve uma estranha obsessão pelo pescoço de sua amada. Com medo de ver aquela perfeita parte da anatomia de Magda envelhecer e perder seu encanto, ele resolve matá-la e embalsamá-la. A premissa é bem interessante e foge um pouco do território de lobisomens, vampiros e fantasmas priorizado por Lucchetti.
Em Um Caso Tenebroso um homem, suspeito de matar a mulher, começa a ser hostilizado por seu cachorro, até que ele não aguenta mais a perseguição do animal e decide matá-lo. Ele jura que é inocente, mas o cachorro parece ter a certeza de que não é.
Já O Experimento do Doutor Ewers é outro conto diferentão, que fala sobre um cientista que faz experimentos com as almas de pessoas. Ele acredita que conseguiu ter sucesso ao transplantar a alma de um amigo seu, que faleceu, em seu cachorro. Agora, ele quer saber se consegue tirar a alma de uma pessoa viva. Apesar do fim ser meio confuso, eu gostei bastante.
O livro vale muito a pena, principalmente por seu valor histórico dentro da literatura nacional. A Argonautas foi muito feliz em relançá-lo.
Nesta segunda edição, separada por mais de 50 anos da original, os editores buscaram manter a identidade da versão de 1963. A capa tem a mesma ilustração e a mesma identidade visual. As ilustrações de Jayme Cortez foram recuperadas e restauradas.
Mas há diferenças. A primeira é o subtítulo. Em vez de Noite Diabólica - Contos Macabros, preferiram trocar o nome do livro para Noite Diabólica - Contos Fantásticos. Na verdade, o nome original tinha mais a ver com o conteúdo do livro do que esse novo título.
A maior diferença dessa edição, no entanto, está nos próprios contos. Além de trazer um conto extra (A Única Testemunha), que não constava na edição de 1963, o novo livro contou com uma revisão extensiva de Lucchetti.
Eu, sinceramente, nunca li a edição original (ela é muito rara, porque está fora de catálogo há décadas), mas credito essa informação ao próprio autor. Segundo Lucchetti, os contos desta edição estão mais próximos dos textos originais, escritos por ele.
De acordo com o autor, quando foram publicados pela Editora Outubro, alguns contos sofreram cortes, o que prejudicou sua qualidade. Além disso, Lucchetti trocou algumas palavras e atualizou a ortografia.
A coletânea contém 18 contos e um poema (Abkar), todos eles de terror. Em geral, o que vemos são histórias com a marca de Lucchetti: textos curtos e objetivos, que optam por explorar os cenários góticos de Inglaterra e Estados Unidos.
Lucchetti ressalta no prefácio que os contos foram escritos em início de carreira e que ele sequer tinha objetivo de publicá-los como contos, então ele diz para o leitor não ter grandes expectativas.
Ele conta que, quando enviou seus textos para a Editora Outubro, seu único objetivo era que suas histórias fossem roteirizadas para quadrinhos. Seu sonho era ver suas histórias desenhadas por Nico Rosso, seu ídolo.
Como não li os textos originais de Lucchetti nem a edição original da Outubro, não posso opinar sobre isso. Mas o que vejo na edição da Argonautas são contos prontos para publicação e não simples argumentos para roteiros de HQ. Talvez Lucchetti os tenha reescrito para esse livro. Realmente não posso opinar.
Pelo menos três dos contos aparecem em outros livros de Lucchetti que já li, mas nenhum deles merece grande destaque. No Domínio do Mistério foi republicado, em uma versão diferente, na coletânea Fantasmagorias (Ed. Devaneio, 2013), com o título de Feiticeira.
Capa da nova edição |
Já Colóquio na Casa do Juiz, que parece mais um pequeno ensaio sobre licantropia do que um conto, é reaproveitado (também com algumas alterações) como uma cena introdutória do livro O Lobisomem (Ed. Fittipaldi, 1995).
Entre os outros 15 contos, os melhores são, sem dúvida, Magda, Um Caso Tenebroso e O Experimento do Doutor Ewers.
O primeiro (Magda) fala sobre um homem que se apaixona por uma mulher mas desenvolve uma estranha obsessão pelo pescoço de sua amada. Com medo de ver aquela perfeita parte da anatomia de Magda envelhecer e perder seu encanto, ele resolve matá-la e embalsamá-la. A premissa é bem interessante e foge um pouco do território de lobisomens, vampiros e fantasmas priorizado por Lucchetti.
Capa da edição original |
Já O Experimento do Doutor Ewers é outro conto diferentão, que fala sobre um cientista que faz experimentos com as almas de pessoas. Ele acredita que conseguiu ter sucesso ao transplantar a alma de um amigo seu, que faleceu, em seu cachorro. Agora, ele quer saber se consegue tirar a alma de uma pessoa viva. Apesar do fim ser meio confuso, eu gostei bastante.
O livro vale muito a pena, principalmente por seu valor histórico dentro da literatura nacional. A Argonautas foi muito feliz em relançá-lo.