ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO (2008): Resenha de filme

Encarnação do Demônio (2008), de José Mojica Marins, encerra a trilogia que mostra a busca de Zé do Caixão pela eternidade através da geração de um filho perfeito. O filme foi rodado em 2006, 39 anos depois do lançamento de Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver (1967), o segundo filme da trilogia.

Diferente dos dois primeiros filmes da trilogia, Encarnação do Demônio é filmado todo em cores. À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964) havia sido todo em preto e branco, enquanto o segundo filme era em PB, mas tinha uma sequência inteira em cores. As únicas cenas em PB deste terceiro longa são justamente as cenas originais das duas produções da década de 60, inseridas em Encarnação do Demônio.

Também há uma cena em PB que foi filmada especialmente para esse filme, que mostra como Zé do Caixão terminou preso em Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver e não morto, como se pensava. A cena obviamente conta com outros atores, já que as gravações foram feitas quatro décadas depois.

A distância cronológica desta última produção também faz com que ela seja completamente diferente das duas primeiras, tanto nos aspectos técnicos quanto no estilo narrativo. Vale destacar que Encarnação do Demônio teve um orçamento milionário.

Zé continua tendo desprezo absoluto pelos outros mortais, continua afrontando a todos impunemente e cometendo suas mortes a torto e a direito. Mas a grande diferença neste filme é que Mojica apela muito mais para o gore. Há cenas de corpos sendo mutilados, pessoas comendo seus próprios corpos, ratos sendo enfiados em vaginas, pessoas saindo de dentro de porcos, chuva de sangue, couros cabeludos sendo arrancados etc. Enfim, é um filme para quem tem estômago forte.

Outra diferença é que a história se passa em uma cidade grande e não num pequeno povoado do interior como nas produções anteriores. Há, inclusive, o envolvimento de questões urbanas, como execuções policiais, prostituição e consumo de drogas por crianças.

Em resumo, a história mostra um Zé do Caixão já envelhecido, depois de 40 anos preso numa penitenciária. Ele acaba sendo solto por decisão da Justiça. Talvez por falta de dinheiro (coisa que não lhe faltava nos dois primeiros filmes), ele vai acabar morando numa favela.

É lá que o caminho do agente funerário se cruza com o de dois policiais linha-dura, o matador de crianças capitão Oswaldo e seu irmão, antigo inimigo de Zé, coronel Claudiomiro (que no passado tinha perdido um olho quando tentou prender Zé do Caixão).

Oswaldo tem sua garganta ferida por Zé do Caixão, quando ele tentava assassinar uma criança da favela. Como Zé ama a crianças, ele impede o crime e corta a pele do policial com sua faca. Isso faz com que o policial queira matá-lo.

Ele pede ajuda para o coronel, que, por vingança, também quer Zé morto. Ainda aparece um padre/monge (autoflagelador) que tem antigas contas a acertar com o agente funerário e quer condenar sua alma ao inferno.

Enquanto isso, Zé continua sua busca pela mulher perfeita (sem medos e sem crenças) que vai conceber um filho perfeito para si. Desta vez, o insaciável coveiro se deita com várias mulheres. O borogodó de Zé é tão sinistro, que as mulheres aceitam se matar, se mutilar, se humilhar e se flagelar só para gerar um filho seu.

Na minha opinião, Encarnação do Demônio encerra muito bem a trilogia.

Um fato curioso, além da demora de quase 40 anos para ser rodado, é que o filme foi o último estrelado por Jece Valadão, que morreu durante as gravações. Com a morte de Jece, que viveu o coronel Claudiomiro, o roteiro teve que ser adaptado e a produção teve que recorrer a dublês, já que Mojica fez questão de manter do ator no filme.

AVALIAÇÃO GERAL: Bom
NÍVEL DE TERROR: Fraco
O QUE ESPERAR: Clima dark e violência



DADOS DO FILME:
Título original: Encarnação do Demônio
Direção: José Mojica Marins
Ano: 2008
País: Brasil
Duração: 94 minutos