Caixa de Pássaros (Bird Box) é o livro de estreia e, até agora, único publicado pelo músico Josh Malerman, vocalista da banda The High Strung, pouco conhecida aqui no Brasil. Publicado originalmente em 2014 no Reino Unido, pela Harper Collins, o livro chegou no mesmo ano aqui no país, pelas mãos da Editora Intrínseca.
Trata-se de um livro sobre um mundo pós-apocalíptico, que é relativamente curto (272 páginas) e de leitura muito fácil e envolvente. O interessante nesse romance é que a dizimação da humanidade não se dá pelos motivos mais clichês (uso de uma arma de destruição em massa, catástrofe ambiental ou apocalipse zumbi), mas sim pelo enlouquecimento das pessoas.
As pessoas vêem coisas que as deixam malucas, fazendo com que elas busquem a autodestruição e a destruição de qualquer pessoa que esteja próxima delas. Só o fato de não recorrer aos clichês do subgênero apocalíptico do terror, o livro de Malerman já ganha muitos pontos. E já vale a pena ser lido.
Não que a história de Malerman seja completamente original. O filme Fim dos Tempos (The Happening, 2008), escrito e dirigido por M. Night Shyamalan, por exemplo, usou a mesma premissa: alguma coisa deixa as pessoas malucas e elas se suicidam.
As duas histórias não são completamente iguais, no entanto. Em Fim dos Tempos, as árvores se comunicam entre si e elas emitem sons que, ouvidos pelas pessoas, fazem-nas perder sua sanidade. Já em Caixa de Pássaros, o que deixa as pessoas malucas é olhar para criaturas sobrenaturais.
Por isso, enquanto em Fim dos Tempos, você precisa fugir das árvores para não escutar seu chamado instigador de suicídios, em Caixa de Pássaros, basta você fechar seus olhos.
O livro gira em torno da protagonista Malorie, uma mulher que engravida pouco antes do apocalipse e perde sua irmã e seus pais para a onda de suicídios. Acompanhamos Malorie em dois momentos, que são narrados simultaneamente, em capítulos intercalados.
Um deles mostra Malorie no presente, já vivendo em um mundo onde não é possível abrir os olhos fora de sua casa, tendo que criar duas crianças. Nessa fase da narrativa, Malorie luta para deixar a casa onde seus filhos nasceram e chegar a um novo local, onde ela acredita haver mais sobreviventes.
Na fase da narrativa que mostra o passado, Malerman conta como toda a loucura começou, como Malorie ainda sem entender o que está acontecendo teve que sair de sua casa e chegar até uma nova casa, onde algumas pessoas resolveram se juntar para se proteger.
Nas duas fases da narrativa, vemos a luta dos sobreviventes para se adaptar a uma vida de escuridão, com medo que os companheiros enlouqueçam e temendo que as criaturas misteriosas lhes façam mal.
O livro tem boas sequências de suspense e mantém o mistério até o fim. Afinal, o que são essas criaturas? Como elas são? Elas fazem algum mal para você? Há cura para isso? Será que um dia o pesadelo vai acabar e as pessoas poderão voltar a abrir seus olhos? Para algumas dessas perguntas há respostas ao longo do livro. Para outras, não.
Isso pode ser um pouco decepcionante para aqueles que estão acostumados a ter todas as respostas ao longo da leitura. Mas pode ser legal para aqueles que gostam de deixar sua imaginação fluir mais solta durante uma história.
A história também traz uma boa dose de drama, abordando questões como amor, amizade, desconfiança, brigas, escolhas, luta pela sobrevivência etc. Tudo isso em meio aos medos e preocupações de uma mãe. No momento passado da narrativa, a mulher luta contra os receios de trazer uma criança para um mundo louco e cruel, sem a assistência adequada. No momento presente, a mulher luta para garantir a sobrevivência de suas crianças (bem, uma não é filha biológica dela).
A obra aborda medos básicos do ser humano. Não ser capaz de enxergar, viver recluso e sem conforto, não ter comida suficiente para sobreviver, ter que tomar decisões difíceis (que envolvem vida e morte). E nisso ela é muito feliz.
Por outro lado, ela traz clichês e alguns furos. Um dos principais clichês é o da jornada do sobrevivente. Por que, em 99% dos filmes desse subgênero, o sobrevivente sempre tem que chegar em algum lugar salvador? Não dá para a pessoa simplesmente se adaptar ao local onde vive? Por que tem que se arriscar na estrada para chegar a um lugar que ela nem sabe se existe?
Em relação aos furos, cito pelo menos dois. As pessoas abrem os olhos dentro de casa e fecham quando vão para fora. Por quê? Porque as criaturas estão em todos os lugares. Mas incrivelmente, nos mais de quatro anos em que a história decorre, as criaturas nunca entram em casa. Só entram uma vez porque um dos moradores propositadamente deixa elas entrarem.
Outra coisa. A eletricidade continua funcionando por mais de quatro anos porque a energia é gerada por uma hidrelétrica. Mas hidrelétricas precisam de pessoas para operá-las. Como a energia consegue se manter por tanto tempo, sem que haja problemas na geração, manutenção e transmissão da eletricidade?
De uma forma geral, o estilo de Malerman é muito bom. É leve e flui bem. A história também é bem legal. Consegue te prender do início ao fim.
HISTÓRICO DE PUBLICAÇÃO:
Publicado originalmente em 2014 no Reino Unido, pela Harper Voyager. No Brasil, é publicado pela Editora Intrínseca.
Trata-se de um livro sobre um mundo pós-apocalíptico, que é relativamente curto (272 páginas) e de leitura muito fácil e envolvente. O interessante nesse romance é que a dizimação da humanidade não se dá pelos motivos mais clichês (uso de uma arma de destruição em massa, catástrofe ambiental ou apocalipse zumbi), mas sim pelo enlouquecimento das pessoas.
As pessoas vêem coisas que as deixam malucas, fazendo com que elas busquem a autodestruição e a destruição de qualquer pessoa que esteja próxima delas. Só o fato de não recorrer aos clichês do subgênero apocalíptico do terror, o livro de Malerman já ganha muitos pontos. E já vale a pena ser lido.
Não que a história de Malerman seja completamente original. O filme Fim dos Tempos (The Happening, 2008), escrito e dirigido por M. Night Shyamalan, por exemplo, usou a mesma premissa: alguma coisa deixa as pessoas malucas e elas se suicidam.
As duas histórias não são completamente iguais, no entanto. Em Fim dos Tempos, as árvores se comunicam entre si e elas emitem sons que, ouvidos pelas pessoas, fazem-nas perder sua sanidade. Já em Caixa de Pássaros, o que deixa as pessoas malucas é olhar para criaturas sobrenaturais.
Por isso, enquanto em Fim dos Tempos, você precisa fugir das árvores para não escutar seu chamado instigador de suicídios, em Caixa de Pássaros, basta você fechar seus olhos.
O livro gira em torno da protagonista Malorie, uma mulher que engravida pouco antes do apocalipse e perde sua irmã e seus pais para a onda de suicídios. Acompanhamos Malorie em dois momentos, que são narrados simultaneamente, em capítulos intercalados.
Um deles mostra Malorie no presente, já vivendo em um mundo onde não é possível abrir os olhos fora de sua casa, tendo que criar duas crianças. Nessa fase da narrativa, Malorie luta para deixar a casa onde seus filhos nasceram e chegar a um novo local, onde ela acredita haver mais sobreviventes.
Na fase da narrativa que mostra o passado, Malerman conta como toda a loucura começou, como Malorie ainda sem entender o que está acontecendo teve que sair de sua casa e chegar até uma nova casa, onde algumas pessoas resolveram se juntar para se proteger.
Nas duas fases da narrativa, vemos a luta dos sobreviventes para se adaptar a uma vida de escuridão, com medo que os companheiros enlouqueçam e temendo que as criaturas misteriosas lhes façam mal.
O livro tem boas sequências de suspense e mantém o mistério até o fim. Afinal, o que são essas criaturas? Como elas são? Elas fazem algum mal para você? Há cura para isso? Será que um dia o pesadelo vai acabar e as pessoas poderão voltar a abrir seus olhos? Para algumas dessas perguntas há respostas ao longo do livro. Para outras, não.
Isso pode ser um pouco decepcionante para aqueles que estão acostumados a ter todas as respostas ao longo da leitura. Mas pode ser legal para aqueles que gostam de deixar sua imaginação fluir mais solta durante uma história.
A história também traz uma boa dose de drama, abordando questões como amor, amizade, desconfiança, brigas, escolhas, luta pela sobrevivência etc. Tudo isso em meio aos medos e preocupações de uma mãe. No momento passado da narrativa, a mulher luta contra os receios de trazer uma criança para um mundo louco e cruel, sem a assistência adequada. No momento presente, a mulher luta para garantir a sobrevivência de suas crianças (bem, uma não é filha biológica dela).
A obra aborda medos básicos do ser humano. Não ser capaz de enxergar, viver recluso e sem conforto, não ter comida suficiente para sobreviver, ter que tomar decisões difíceis (que envolvem vida e morte). E nisso ela é muito feliz.
Por outro lado, ela traz clichês e alguns furos. Um dos principais clichês é o da jornada do sobrevivente. Por que, em 99% dos filmes desse subgênero, o sobrevivente sempre tem que chegar em algum lugar salvador? Não dá para a pessoa simplesmente se adaptar ao local onde vive? Por que tem que se arriscar na estrada para chegar a um lugar que ela nem sabe se existe?
Em relação aos furos, cito pelo menos dois. As pessoas abrem os olhos dentro de casa e fecham quando vão para fora. Por quê? Porque as criaturas estão em todos os lugares. Mas incrivelmente, nos mais de quatro anos em que a história decorre, as criaturas nunca entram em casa. Só entram uma vez porque um dos moradores propositadamente deixa elas entrarem.
Outra coisa. A eletricidade continua funcionando por mais de quatro anos porque a energia é gerada por uma hidrelétrica. Mas hidrelétricas precisam de pessoas para operá-las. Como a energia consegue se manter por tanto tempo, sem que haja problemas na geração, manutenção e transmissão da eletricidade?
De uma forma geral, o estilo de Malerman é muito bom. É leve e flui bem. A história também é bem legal. Consegue te prender do início ao fim.
HISTÓRICO DE PUBLICAÇÃO:
Publicado originalmente em 2014 no Reino Unido, pela Harper Voyager. No Brasil, é publicado pela Editora Intrínseca.