Eu me interessei em ler Horror na Colina de Darrington (2015), de M.V. Barcelos, depois que eu vi que a história tinha mais de 600 mil visualizações no Wattpad. Li o primeiro capítulo ali mesmo e, depois, comprei o livro em uma promoção na Saraiva.
Barcelos, assim como eu, é jornalista e morador do Rio de Janeiro. Seu texto é bom e bem conciso, sem rodeios. Isso é um lado positivo, mas já era algo de se esperar, uma vez que concisão e bom texto são imprescindíveis a qualquer jornalista que não queira morrer de fome.
Horror na Colina de Darrington conta a história do adolescente órfão Ben Simons, que se muda para a casa de seu tio Romeo, para cuidar de sua prima de cinco anos, Carla, já que sua tia sofreu um derrame. O livro é, na verdade, um relato em primeira pessoa de Ben, que resolve contar sua experiência assustadora na casa de seus tios, depois de muitos anos de silêncio.
Logo no prólogo, a história começa com Ben dizendo que vai contar a pior experiência de sua vida, algo "assustador, bizarro, maldito". A fórmula é bem sucedida, porque faz você querer saber o que de tão terrível aconteceu com o jovem.
Mas, ao mesmo tempo, pode ser um tiro pela culatra, uma vez que o leitor pode se decepcionar com a história e não achá-la tão assustadora, maldita e bizarra do órfão. Eu fiquei no meio termo. Não cheguei a me decepcionar, mas confesso que esperava mais.
A premissa de Barcelos é relativamente original, apesar de lidar com muitos clichês do terror. Você começa a leitura achando se tratar de mais uma história de casa mal-assombrada. Mas, em determinado momento, você começa a perceber que há algo mais além de espíritos malignos assombrando Ben e sua priminha.
(Cuidado, spoilers à frente)
E aí, entra em cena a sociedade secreta dos Illuminati, uma suposta conspiração para dominar o mundo, que envolveria políticos, empresários e um pacto com o capiroto. Acho que essa é a grande sacada de Barcelos, juntar duas coisas que, em geral, assustam as pessoas: espíritos maléficos em uma casa mal-assombrada e uma teoria da conspiração global envolvendo o Príncipe das Trevas.
E o que também torna a trama ainda mais macabra é que o alvo dos Illuminati é uma criança de cinco anos. Para qualquer um que tenha um filho, sobrinho ou neto com essa idade sabe que não há terror maior do que imaginar que qualquer mal possa acontecer à criança.
(Pode relaxar, fim dos spoilers)
O estilo narrativo de Barcelos lembra muito o de R.F. Lucchetti. Ambos preferem usar o cenário já naturalmente gótico dos países do norte (no caso de Barcelos, o estado de New Hampshire, nos Estados Unidos), em vez do tropical Brasil.
Além disso, ambos têm uma narrativa muito corrida, como se o livro fosse uma cena de ação, do início ao fim, sem se preocupar em criar uma atmosfera, construir personagens, contar histórias paralelas ou fazer divagações.
É um estilo que se aproxima muito da literatura infanto-juvenil (claro que com os elementos de terror que seriam censurados em qualquer livro para menores de 16 anos).
No caso específico de Horror na Colina de Darrington, o autor já começa "com o pé na porta". Logo no primeiro capítulo, o protagonista já presencia uma aparição fantasmagórica. No capítulo seguinte, ele é perseguido por uma criatura que tem cascos nos pés. E por aí vai.
Enfim, ele tem um talento para descrever cenas de ação. E isso é bom. Sua narrativa é quase cinematográfica (e, inclusive, usa muitos clichês do cinema de terror em suas descrições). Horror na Colina de Darrington parece mais um roteiro de cinema.
Mas, por outro lado, para mim, histórias de terror precisam ser construídas com base numa atmosfera. É legal começar devagar e ir criando uma sensação de angústia no leitor, antes de lançar mão de seu arsenal. É legal também dar algumas pausas para o leitor respirar.
Se você já mostra as cenas mais assustadoras no início do livro, o resto da história passa a ficar meio sem graça, porque só há duas alternativas para isso: reduzir o ritmo do livro e torná-lo entediante ou manter o ritmo alucinante do livro e correr um risco grande de torná-lo repetitivo. Ninguém se surpreende mais, por mais que você se esforce.
Não sei se Barcelos adotou essa tática para prender os leitores no Wattpad, comunidade virtual onde, geralmente, os livros são publicados como folhetins, em capítulos. Talvez, sim.
De qualquer forma, essa é uma fórmula que, para mim, não funciona muito bem no formato do livro. A grande vantagem é que o livro é curto (cerca de 100 páginas), então a chance de se entediar e largá-lo no meio é muito pequena.
Feita a crítica, Barcelos consegue pelo menos causar algumas surpresas, no meio e no final do livro. Ele é um escritor talentoso e acho que tem um grande futuro pela frente. O tsunami de leitores que leram Horror na Colina de Darrington no Wattpad é prova disso.
Recomendo o livro (apesar do final ter ficado um pouco aquém do que eu esperava). Leitura fácil e agradável.
Barcelos, assim como eu, é jornalista e morador do Rio de Janeiro. Seu texto é bom e bem conciso, sem rodeios. Isso é um lado positivo, mas já era algo de se esperar, uma vez que concisão e bom texto são imprescindíveis a qualquer jornalista que não queira morrer de fome.
Horror na Colina de Darrington conta a história do adolescente órfão Ben Simons, que se muda para a casa de seu tio Romeo, para cuidar de sua prima de cinco anos, Carla, já que sua tia sofreu um derrame. O livro é, na verdade, um relato em primeira pessoa de Ben, que resolve contar sua experiência assustadora na casa de seus tios, depois de muitos anos de silêncio.
Logo no prólogo, a história começa com Ben dizendo que vai contar a pior experiência de sua vida, algo "assustador, bizarro, maldito". A fórmula é bem sucedida, porque faz você querer saber o que de tão terrível aconteceu com o jovem.
Mas, ao mesmo tempo, pode ser um tiro pela culatra, uma vez que o leitor pode se decepcionar com a história e não achá-la tão assustadora, maldita e bizarra do órfão. Eu fiquei no meio termo. Não cheguei a me decepcionar, mas confesso que esperava mais.
A premissa de Barcelos é relativamente original, apesar de lidar com muitos clichês do terror. Você começa a leitura achando se tratar de mais uma história de casa mal-assombrada. Mas, em determinado momento, você começa a perceber que há algo mais além de espíritos malignos assombrando Ben e sua priminha.
(Cuidado, spoilers à frente)
E aí, entra em cena a sociedade secreta dos Illuminati, uma suposta conspiração para dominar o mundo, que envolveria políticos, empresários e um pacto com o capiroto. Acho que essa é a grande sacada de Barcelos, juntar duas coisas que, em geral, assustam as pessoas: espíritos maléficos em uma casa mal-assombrada e uma teoria da conspiração global envolvendo o Príncipe das Trevas.
E o que também torna a trama ainda mais macabra é que o alvo dos Illuminati é uma criança de cinco anos. Para qualquer um que tenha um filho, sobrinho ou neto com essa idade sabe que não há terror maior do que imaginar que qualquer mal possa acontecer à criança.
(Pode relaxar, fim dos spoilers)
O estilo narrativo de Barcelos lembra muito o de R.F. Lucchetti. Ambos preferem usar o cenário já naturalmente gótico dos países do norte (no caso de Barcelos, o estado de New Hampshire, nos Estados Unidos), em vez do tropical Brasil.
Além disso, ambos têm uma narrativa muito corrida, como se o livro fosse uma cena de ação, do início ao fim, sem se preocupar em criar uma atmosfera, construir personagens, contar histórias paralelas ou fazer divagações.
É um estilo que se aproxima muito da literatura infanto-juvenil (claro que com os elementos de terror que seriam censurados em qualquer livro para menores de 16 anos).
No caso específico de Horror na Colina de Darrington, o autor já começa "com o pé na porta". Logo no primeiro capítulo, o protagonista já presencia uma aparição fantasmagórica. No capítulo seguinte, ele é perseguido por uma criatura que tem cascos nos pés. E por aí vai.
Enfim, ele tem um talento para descrever cenas de ação. E isso é bom. Sua narrativa é quase cinematográfica (e, inclusive, usa muitos clichês do cinema de terror em suas descrições). Horror na Colina de Darrington parece mais um roteiro de cinema.
Mas, por outro lado, para mim, histórias de terror precisam ser construídas com base numa atmosfera. É legal começar devagar e ir criando uma sensação de angústia no leitor, antes de lançar mão de seu arsenal. É legal também dar algumas pausas para o leitor respirar.
Se você já mostra as cenas mais assustadoras no início do livro, o resto da história passa a ficar meio sem graça, porque só há duas alternativas para isso: reduzir o ritmo do livro e torná-lo entediante ou manter o ritmo alucinante do livro e correr um risco grande de torná-lo repetitivo. Ninguém se surpreende mais, por mais que você se esforce.
Não sei se Barcelos adotou essa tática para prender os leitores no Wattpad, comunidade virtual onde, geralmente, os livros são publicados como folhetins, em capítulos. Talvez, sim.
De qualquer forma, essa é uma fórmula que, para mim, não funciona muito bem no formato do livro. A grande vantagem é que o livro é curto (cerca de 100 páginas), então a chance de se entediar e largá-lo no meio é muito pequena.
Feita a crítica, Barcelos consegue pelo menos causar algumas surpresas, no meio e no final do livro. Ele é um escritor talentoso e acho que tem um grande futuro pela frente. O tsunami de leitores que leram Horror na Colina de Darrington no Wattpad é prova disso.
Recomendo o livro (apesar do final ter ficado um pouco aquém do que eu esperava). Leitura fácil e agradável.