Entrevista com o diretor de VAMPIRO 40 GRAUS, Marcelo Santiago

Um ascensorista durante o dia, que vira um ser sedento de sangue na noite carioca e trafica um pó feito à base de cinzas de vampiros. Essa é a premissa do surreal Vampiro 40 Graus, filme sobre um vampiro que vendeu sua alma ao diabo em prestações e veio parar no calor do Rio de Janeiro.

Vampiro 40 Graus é baseado no livro de Lucia Chataignier As Aventuras do Vampiro Carioca (Ed. Multifoco, 2010) e na série de curta-metragens Vampiro Carioca, roteirizada pelo multimídia Fausto Fawcett e exibida no Canal Brasil

O filme, que mistura um humor ácido com terror e erotismo, em uma sombria atmosfera de história em quadrinhos, estreia em 2 de junho nos cinemas brasileiros. O FICÇÃO TERROR conversou com o diretor do longa-metragem (que também dirige a série), Marcelo Santiago.

Divulgação/Marcelo Santiago
Veja a entrevista:

FT: Vampiro 40 graus é baseado na série de TV Vampiro Carioca, que, por sua vez, é baseado em um livro de Lucia Chataignier (As Aventuras do Vampiro Carioca). O livro foi publicado de forma semi-independente por uma pequena editora, com tiragem limitada. Quem teve a ideia da adaptação televisiva? Como vocês chegaram ao livro de Lucia e como surgiu a ideia de adaptá-lo para uma série de TV?
MS: Em 2011, a Lucia veio até nós trazendo vários argumentos originais para programas de TV e trouxe também o livro. Imediatamente me encantei com a ideia desse personagem - um vampiro nos trópicos. Chamei o Fausto Fawcett e fizemos a primeira temporada do programa para o Canal Brasil inspirada no livro, com roteiro do Henrique Tavares. Trata-se de um ascensorista que se imagina vampiro. Mandamos o nosso ascensorista para a Transilvânia, onde ele fez pós graduação e MBA em vampiragem e se transformou em Vlak.

FT: E como surgiu a ideia de adaptar a série de TV para o cinema?
MS: Quando combinamos a terceira temporada do Vampiro Carioca com o Canal Brasil, já incluímos o projeto do longa. Inicialmente, pensamos em transformar a segunda temporada, que já estava filmada, em longa. Mas, amadurecendo a ideia, achamos melhor fazer a terceira temporada e o longa ao mesmo tempo.

Retrato de Marcelo pelo artista Carlos Bracher
FT: Vampiro 40 graus é um filme que mistura terror, comédia e erotismo, uma fórmula que fez sucesso nos anos 80, em produções como As Sete Vampiras (1986) e O Segredo da Múmia (1981), de Ivan Cardoso. Você buscou referências em algum desses (ou de outros) filmes para filmar Vampiro 40 graus?
MS: Gosto muito dos filmes do Ivan, mas não me inspirei neles. Meu filme não tem as características de chanchada presentes lá. Eu procurei fazer um humor mais sarcástico, mais irônico, bem na linha do Fausto Fawcett, que é o roteirista. O erotismo e o terror que uso são bastante estilizados, imersos na experiência estética do filme e, portanto, pouco explícitos. Os filmes de vampiro que me influenciaram são o Nosferatu (Nosferatu: Phantom der Nacht, 1979), do [Werner] Herzog e A Dança dos Vampiros, (Dance of the Vampires, 1967) do [Roman] Polanski. Mas só depois do filme pronto é que me dei conta disso...

FT: A série Vampiro Carioca tem uma atmosfera bem sombria, com muito videografismo, imagens desfocadas e tomadas em close, sem muitos planos abertos. Vampiro 40 graus mantém o estilo e a estética da série?MS: A atmosfera sombria está mantida, bem como os videografismos que remetem às histórias em quadrinhos, que são a grande inspiração do filme. Utilizamos planos abertos, sim, mas abusamos dos closes e detalhes, buscando a construção de uma estética e uma atmosfera comic book.

FT: Como foram as filmagens de Vampiro 40 graus? Conseguiram aproveitar muita coisa do seriado? Atores, locações, figurinos, equipamentos? Quanto tempo durou esse processo?
MS: Sim, tudo foi aproveitado da terceira temporada. Fizemos o filme concomitantemente, com os mesmos atores, figurinos e equipamentos, e com a mesma equipe. A locação é uma só, já que o filme é todo filmado em estúdio com os cenários projetados numa tela ao fundo, usando a técnica do back projection. Fizemos tudo em inacreditáveis duas semanas.

FT: O que é mais difícil para o cinema brasileiro? Produzir um filme ou conseguir distribuição e público?
MS: Sem dúvida, conseguir distribuição. O sistema de exibição dos filmes nas salas de cinema é implacável. Se você não consegue a média histórica da sala na primeira semana, seu filme sai de cartaz. Para atingir essa média, você tem que gastar muito com divulgação. A grande maioria dos filmes utiliza todos os recursos na produção e poucos conseguem recursos extras para o lançamento. Para efeito de comparação, um filme de grande porte americano gasta mais de 5 milhões de reais em divulgação só no Brasil, o que daria para produzir três filmes como o meu.

                                 

FT: A estreia mundial do filme foi no Fantasporto, em Portugal. Como foi essa experiência?
MS: Foi fantástica. A sessão oficial foi excelente, o filme funcionou muito bem com o público. A repercussão foi muito positiva. Basta ver a crítica publicada no site português Sapo. O festival abriu as portas do filme para o mundo. Fechamos com uma distribuidora inglesa que vai representar o filme internacionalmente. As expectativas são as melhores.

FT: O que o público pode esperar de Vampiro 40 graus?
MS: O público terá uma experiência cinematográfica única, inusitada e muito intensa.