Entrevista com André Barcinski, roteirista da minissérie ZÉ DO CAIXÃO

A minissérie Zé do Caixão, que estreia no próximo dia 13, terá seis episódios e será exibida no canal de TV por assinatura Space


André Barcinski é uma das maiores autoridades quando se trata do cineasta José Mojica Marins, criador do famoso personagem Zé do Caixão, um sádico agente funerário que estrelou uma dúzia de filmes e programas de televisão.

Jornalista, crítico, escritor e diretor de televisão, Barcinski escreveu, junto com o jornalista Ivan Finotti, a biografia Maldito - A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, publicada originalmente em 1998, pela Editora 34.

Barcinski também uniu-se a Finotti para fazer um documentário sobre o mestre do cinema de terror nacional. O documentário Maldito - O Estranho Mundo de José Mojica Marins (2001) foi o vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema de Sundance, nos Estados Unidos, naquele ano.

Agora, 14 anos depois do prêmio em Sundance, Barcinski se vê novamente envolvido com dois projetos sobre Zé do Caixão. O primeiro é a minissérie Zé do Caixão, sobre a vida e a obra de Mojica, que estreará no Canal Space no próximo dia 13

André Barcinski (divulgação)

Além de ser coautor da biografia Maldito, na qual a minissérie foi baseada, Barcinski também assina o roteiro com Rodrigo Grynszpan e o diretor Vitor Mafra. Na série, Mojica é vivido por Matheus Nachtergaele. 

"A ideia da série é contar a vida de Mojica paralelamente à produção de seis de seus filmes mais importantes. A história começa em 1958 com a filmagem do faroeste Sina do Aventureiro e termina nos anos 80, com as fitas de sexo explícito, passando pelo auge dos filmes de Zé do Caixão, nos anos 60, e a pornochanchada, em meados dos 70", conta Barcinski.

Na semana seguinte, no dia 20 de novembro, é a vez da biografia, que estava fora de catálogo, ser relançada em uma luxuosa edição, pela editora DarkSide Books. 

Barcinski bateu um papo com o FICÇÃO TERROR e falou sobre sua relação com a obra de Zé do Caixão e sobre seus dois novos projetos. Veja a entrevista:

FT: A editora Darkside está relançando a biografia de José Mojica Marins. Como surgiu a ideia de falar sobre a vida e a obra de Zé do Caixão?
AB: Vi um filme de Mojica pela primeira vez em 1986 e fiquei louco com aquilo. Fiquei tão empolgado que fui a São Paulo (morava no Rio) e assisti à filmagem de uma de suas fitas de sexo explícito e um show que ele fazia no Playcenter. Depois, comecei a colecionar tudo que se referia ao Mojica, mas as referências eram poucas, quase não havia nada sobre ele publicado no Brasil. No meio dos anos 90 tive a ideia de fazer um livro sobre ele, achava que um artista da importância dele merecia ter a história contada.

FT: Há cerca de 200 páginas de material novo nessa biografia. O que o público pode encontrar nessa nova edição?
AB: A maior parte é de material gráfico. O projeto visual ficou lindo demais. A Darkside é muito caprichosa com o visual de seus lançamentos. Escrevi um posfácio sobre os últimos anos da vida do Mojica, e o Carlos Primati atualizou a “Mojicografia”, que é a lista de todos os filmes e projetos do Mojica. Foram mais de 50 adições.
FT: Depois de vários anos "esquecido", Zé do Caixão pareceu ter vivido uma espécie de “ressurreição” na década de 90. Você deve ter acompanhado tudo de perto, porque estava preparando a biografia de Mojica, que seria lançada em 1998. Você poderia falar um pouco sobre com foi essa redescoberta do trabalho de Mojica, naquela época?
AB: Tudo começou quando a empresa de vídeo Something Weird lançou 13 filmes de Mojica no mercado norte-americano. Isso mudou tudo. Fãs de cinema de horror puderam conhecer melhor a obra dele e estudar seus filmes. Isso gerou um interesse imenso pela obra dele, e dezenas de festivais de todo o mundo começaram a programar retrospectivas de seus filmes. Em 2001, Ivan Finotti e eu lançamos o documentário Maldito, que ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance e ajudou a divulgar ainda mais o trabalho do Mojica.

FT: Agora, em novembro, estreia uma minissérie sobre a vida de Zé do Caixão, que é baseada na biografia que você escreveu com o Ivan Finotti, e cujo roteiro você assina junto com Vitor Mafra e Ricardo Grynszpan. Queria que você falasse um pouco sobre essa série, que estreará em novembro no Canal Space. 
AB: Desde que o livro foi lançado, em 1998, temos a ideia de adaptá-lo para um filme. A ideia original era um longa pra cinema, mas felizmente o projeto acabou indo pra TV, onde, tenho certeza, terá um público muito maior. Também pesou o fato de podermos estender a história para seis episódios e contá-la de uma fora mais interessante. A ideia da série é contar a vida de Mojica paralelamente à produção de seis de seus filmes mais importantes. A história começa em 1958 com a filmagem do faroeste Sina do Aventureiro e termina nos anos 80, com as fitas de sexo explícito, passando pelo auge dos filmes de Zé do Caixão, nos anos 60, e a pornochanchada, em meados dos 70. O tema central da série é a batalha de Mojica para realizar seus filmes, e como ele fez de tudo – tudo mesmo, incluindo vender objetos dos pais – para bancar as produções. É a história de um homem obcecado pelo cinema.

FT: Mojica teve alguma participação na produção? Ele viu o programa pronto?
AB: Infelizmente, Mojica teve graves problemas de saúde durante a produção. Ficou cinco meses na UTI. Nossa intenção era que ele fizesse uma ponta na série, mas não foi possível. Mas ele conseguiu visitar as filmagens por um dia e, apesar de fragilizado fisicamente, se mostrou muito feliz. Ele viu os episódios prontos e ficou particularmente emocionado com as cenas em que os pais aparecem.


Cartaz de divulgação da minissérie do Space

FT: O que Mojica e seu personagem Zé do Caixão representam para a cultura e o cinema brasileiros?
AB: Acho que representam muito. Mojica é um cineasta autodidata e verdadeiramente independente, que sempre fez um cinema autoral e único. E Zé do Caixão já se tornou um personagem mitológico do Brasil, como o Saci Pererê e a Mula Sem Cabeça. É uma figura que habita nosso imaginário coletivo e os pesadelos de várias gerações. E pensar que o artista que encarna esse personagem está entre nós é, para mim, incrível.