OS SETE, de André Vianco: Resenha de livro

Os Sete foi a primeira obra de André Vianco que eu li (e, até agora, a única). Terminei de lê-la hoje, depois de ter comprado uma primeira edição do livro (editada pelo próprio autor em 2000) em um sebo.

Pelo que sei da história, o autor pegou a verba indenizatória da demissão de seu emprego, aplicou na publicação da obra e vendeu toda sua tiragem de mil exemplares em pouco tempo, de forma independente. A façanha atraiu a atenção da Editora Novo Século, que publicou vários livros do escritor.

Não é difícil entender porque o livro fez tanto sucesso. A história é boa. Vianco conseguiu aplicar uma ideia original em um tema tão batido quanto uma história de vampiros. Os Sete começa com a descoberta, por mergulhadores amadores, de uma estranha caixa de prata, no porão de uma caravela naufragada na costa do Rio Grande do Sul no início do século XVI.

A caixa, pode se imaginar, contém os tais sete vampiros mencionados no título. Um a um eles são acordados de seu sono de quase 500 anos e tocam o terror pelas cidades brasileiras.

Cuidado, a partir daqui pode haver spoilers...




Os lados positivos do livro são vários. A narrativa de Vianco flui. O autor sabe criar suspense como poucos e tem uma grande capacidade descritiva. O enredo é bem construído e há poucas coisas estranhas na história (mas há e vou listá-las abaixo).

Para os fãs de terror, há também boas cenas assustadoras, como mortos acordando de um necrotério. Há, além dos vampiros, zumbis vingativos (entre eles um assassino psicótico) e um lobisomem.

Como ponto em favor de Vianco, há ainda as referências históricas que dão um toque interessante a Os Sete. Outra coisa foi a originalidade do autor, ao dar poderes diferentes a cada vampiro. Os vampiros de Vianco não são apenas sugadores de sangue com força descomunal. Eles têm poderes como fazer tudo congelar, acordar os mortos, se transformar em outra pessoa etc. São quase uns X-Men mortos-vivos.

Enfim, o livro já é um clássico do terror nacional com todos os méritos.

Agora, dados os devidos elogios, vamos aos pontos fracos do livro. Os diálogos, em muitos momentos, são pouco convincentes. A começar pelos próprios vampiros. Vianco fez uma aposta arriscada ao ambientar vampiros no século XVI e, ainda por cima, fazê-los falar.

Ao ver os diálogos dos vampiros de Os Sete, não me convenci de que eram portugueses (apesar dos louváveis esforços de Vianco de usar expressões lusitanas). Se imaginar que os vampiros viveram no século XVI, quando a língua portuguesa lembrava muito pouco a língua falada hoje em dia, os diálogos são ainda menos convincentes.

Uma solução talvez fosse colocar os vampiros calados no início da história e depois usar a desculpa de que eles aprenderam a falar (vampiros aprendem rápido, segundo o próprio Vianco) como brasileiros com os brasileiros.

Outra coisa pouco convincente é a história do envolvimento da fictícia Universidade Soares de Porto Alegre (USPA) no resgate da caravela. Primeiro porque a universidade aceita dividir o tesouro encontrado na caravela com os mergulhadores amadores que a encontraram. Que universidade aceitaria dividir tesouros com mergulhadores sem autorização do governo brasileiro?

Em segundo lugar, não faltam recursos financeiros, tecnológicos e humanos à universidade. A tal USPA parece mais o MIT, tamanhos são seus recursos prontamente disponibilizados para, por exemplo, tirar uma caravela do fundo do mar e colocá-la em condições de navegar e dispor de vários tipos de profissionais de ponta em várias áreas do conhecimento. Não me parece real que uma universidade brasileira (qualquer que fosse) tivesse tal capacidade.

E mais, ela pede proteção do Exército para seus estudos, que concede a regalia, sem qualquer motivo aparente.

Outra coisa pouco convincente na história foi a viagem dos vampiros do Rio Grande do Sul para São Paulo. Os vampiros são acordados pelo sangue de uma estudante da USPA (Eliana), que sangra ao tentar abrir a caixa de prata. Essa estudante então, com medo de ser perseguida pelos vampiros, se muda para SP junto com seu amigo (Tiago), um dos mergulhadores amadores.

Os vampiros sentem que ela está longe e que precisam pegar um avião. Até aí tudo bem, afinal vampiros têm sexto sentido. Mas eles vão até o aeroporto e, chegando lá, resolvem dormir em umas caixas que, acidentalmente, vão parar em SP.

Outra parte que foi difícil de engolir foi quando, depois do vampiro-chefe matar centenas de soldados das forças especiais, armados de fuzis e roupas especiais, ele é espancado por Tiago.

Para encerrar, um vampiro que é um pouco bonzinho (apesar de matar as pessoas para saciar sua sede de sangue) e, inclusive, resolve se sacrificar para o bem da humanidade. Apesar disso, ele faz com que Tiago prometa que vai ressuscitar seu irmão, o vampiro mais perigoso e sanguinário que existe (Sétimo). Quer dizer, ele se sacrifica para o bem da humanidade mas faz questão que seu irmão, um verdadeiro demônio em forma de vampiro, seja ressuscitado.

Enfim, são pequenas coisas que não comprometem a obra de Vianco. Vale muito a pena ler.

DADOS DO LIVRO
Os Sete
Ed. Novo Século
456 páginas
Preço de capa: R$ 39,90