O diretor americano Jeremiah Kipp passa por cima de qualquer polêmica em torno da escolha de Nana Gouvêa e faz elogios à modelo e atriz brasileira
Antes mesmo da estreia,
prevista apenas para o ano que vem, o filme americano de terror e
ficção científica Black Wake tornou-se
famoso no Brasil por se tratar da estreia da modelo e atriz Nana
Gouvêa em um filme americano.
O fato de Nana, mais
conhecida por suas participações na Banheira do Gugu do
que por seu talento dramático, estrelar um filme de Hollywood
pegou o público brasileiro de surpresa.
Nana Gouvêa em cena, em Black Wake |
Apesar da polêmica
estreia de Nana, que é casada com o produtor do filme, Carlos
Keyes, Kipp só fez elogios à modelo brasileira. “A
Nana tem carisma, uma energia selvagem e feroz e um senso de
comprometimento imersivo total em seu papel. Ela tem uma força
enorme. Eu adoro atores que são ousados e sinceros, que
realmente se comprometem com a realidade da cena. Essa é Nana
Gouvêa”, afirmou ao FICÇÃO TERROR.
Black Wake é
o segundo longa-metragem de Kipp, cineasta nascido em Rhode Island
(“estado natal do clássico escritor de terror H.P.
Lovecraft”, na definição do próprio Kipp), que
se formou em cinema pela New York University e tem um currículo
recheado de curtas-metragens.
FT: Seu filme Black
Wake ficou famoso no Brasil por causa da atriz Nana Gouvêa.
Como você a conheceu e como ela assumiu o principal papel do
filme?
JK: A Nana tem carisma,
uma energia selvagem e feroz e um senso de comprometimento imersivo
total em seu papel. Eu a conheci quando dirigia outro filme e
começamos a planejar um trabalho conjunto. Eu tinha
previamente trabalhado com o roteirista Jerry Janda em um
curta-metragem chamado Painkiller e
ele tinha um roteiro para Black Wake
cujo papel principal era apropriado para a Nana. Assim como ela na
vida real, sua personagem no filme não tem medo de dizer o que
realmente pensa. Isso parece sacudir as pessoas. Essa é uma
das razões pelas quais eu quis trabalhar com ela... por essa
tenacidade.
FT:
Black Wake é o primeiro filme americano de Nana,
apesar dela ter atuado em várias séries televisivas no
Brasil. Fale um pouco sobre sua personagem e sua atuação.
JK: Nana vive uma
cientista chamada Dra. Luiza Moreira. Ela é parte de uma
equipe de especialistas investigando uma série de assassinatos
na costa atlântica. Sua personagem junta as evidências
para solucionar o mistério. O que nós amamos sobre o
projeto é a natureza do monstro que ela enfrenta, que parecem
ser parasitas infecciosos e zumbis, mas que se revela ser algo muito
mais apocalíptico. Nana tem sido maravilhosa. Ela é
como um animal selvagem lutando por seu direito de viver. Sua
co-estrela, Jonny Beauchamp (da série de TV Penny Dreadful)
falou sobre a eletricidade de fazer cenas com ela, em uma entrevista
ao Hollywood Reporter. Ela tem uma força enorme. Eu adoro
atores que são ousados e sinceros, que realmente se
comprometem com a realidade da cena. Essa é Nana Gouvêa.
FT: Nana é
mais famosa aqui no Brasil por coisas como posar nua para a Playboy,
participar de programas populares como Gugu e, mais recentemente, por
posar como modelo em áreas devastadas pelo Furacão
Sandy (em 2012). Enfim, ela é uma figura pública
controversa aqui no Brasil. Você não tem receio de que
seu filme seja assistido pela razão errada aqui no país
(isto é, para criticar a atuação de Nana, em vez
de curtir o filme)?
JK: Talvez isso seja
uma diferença cultural. Nos Estados Unidos, Charlize Theron e
Norman Reedus podem começar como modelos e, então,
serem levados a sério como atores. O Brasil julgaria Charlize
Theron de forma tão dura? Hollywood é um lugar
estranho, mas você não pode acusá-los de não
dar as pessoas oportunidades e segundas chances. Os tablóides
já atacaram Robert Downey Jr e Mickey Rourke, mas eles
perseveraram acreditando em seu talento e não dando ouvidos a
intrigueiros. Agora ninguém dá a mínima para o
que os tablóides dizem. Black Wake é feito para
o grande público. Quando nós exibimos o filme, ele não
nos pertence mais. Ele pertence ao público. Esperamos
compartilhar nosso trabalho com a audiência internacional e
exibir o filme no Brasil.
FT: Em uma
entrevista recente, você disse que odiava filmes estilo found
footage. Por que você decidiu filmar Black Wake nesse
formato?
JK: Found footage
é um formato limitador porque você tem que justificar
quem está operando a câmera na história, por que
e como eles estão filmando. O roteiro foi escrito nesse
estilo. O que me ajudou foi assistir documentários de
cineastas como Errol Morris e Werner Herzog, vendo como eles usavam e
formatavam o material para contar uma história. Eu também
recorri a H.P. Lovecraft, O Drácula,
de Bram Stoker, e O Médico e o Monstro, de Robert
Louis Stevenson, cujas histórias são compostas
por cartas, artigos noticiosos e arquivos policiais. Há uma
forte ligação entre o estilo de escrita epistolar e os
filmes found footage. Isso me fez enxergar as possibilidades
desse estilo.
FT: O filme conta a
atuação de Eric Roberts (irmão de Julia Roberts,
indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de 1985, por
Expresso para o Inferno). Como você chegou até
ele?
JK: Eu tinha trabalhado
anteriormente com Eric Roberts como diretor assistente no filme The
Epic of Hershey (2015), curta-metragem de Douglas McGinness, que
estreou em Cannes. Esse filme foi uma experiência legal para a
gente. Então, eu o convidei para fazer Black Wake e ele
trouxe uma intensidade fora do comum ao set de filmagem. Nós
também trouxemos o ator extraordinário Tom Sizemore (de
O Resgate do Soldado Ryan, de 1998, e Assassinos por
Natureza, de 1994). Ele faz o papel de um detetive que se torna
cada vez mais obcecado conforme ele é atraído para o
mistério. Tom se compromete com a verdade daquele momento.
Trabalhar com ele e ver como ele chega ao set pronto para atuar é
um verdadeiro privilégio.
Cartaz americano do filme |
JK: Vamos saber em
2016. Nesse momento, estamos muito envolvidos no processo de edição,
montando o filme juntos, trabalhando no desenho do som e nos efeitos
visuais. Dito isso, estou empolgado com a exibição do
gilme e vamos divulgar os detalhes sobre o lançamento quando
chegar a hora.
FT: Quando vocês planejam lançá-lo no Brasil? Vocês já têm um distribuidor?
JK: Como Orson Welles
dizia “Não sirva nenhum vinho antes da hora!”. Nós
vamos anunciar nossos acordos quando Carlos Keyes [produtor do
filme e marido de Nana Gouvêa].
FT: Você está
envolvido em algum outro projeto nesse momento?
JK: Estamos filmando
Pickup, escrito pela estimada dramaturga Jessica Blank. Sua
peça magnífica The Exonerated (co-escrita com
Erik Jensen) teve uma grande temporada na Broadway, com um elenco
espetacular, incluindo Danny Glover, Susan Sarandon, Brian Dennehy e
Tim Robbins. Seu roteiro para Pickup é sobre um vício
sexual consumindo uma família; poderoso e enervante. É
como filmar em um local profundo e escuro. Como contadores de
histórias, temos que correr para lugares que temos medo de ir.
INTERVIEW WITH DIRECTOR OF BLACK WAKE, JEREMIAH KIPP
Before its premiere, that's supposed to happen next year, american horror and sci-fi movie Black Wake became famous in Brazil, because it's the debut of Nana Gouvêa, brazilian model and actress, in an american film.
The fact that Nana, a celebrity that's more famous for posing nude than for acting, would star a Hollywood movie made brazilian audience raise their eyebrows.
FICÇÃO TERROR interviewed the man responsible for Nana's debut in the US movie industry, filmmaker Jeremiah Kipp, who made the invitation to the brazilian actress.
Kipp and Nana (with white coats) in the centre of the photo |
Despite the controversial Nana's debut, who's married to Black Wake's producer Carlos Keyes, Kipp has praised the brazilian model/actress. "Nana has charisma, a wild and ferocious energy and a sense of total immersive commitment to her role. She has enormous strength. I love actors who are daring and sincere, who commit to the truth of the scene. That's Nana Gouvêa".
Black Wake is Kipp's second feature film. Kipp, a filmmaker born in Rhode Island (“the home state of classic horror writer H.P. Lovecraft”, according to him), that graduated in New York University's film school and has directed lots of short films.
FT: Your film Black
Wake became famous in Brazil because of actress Nana Gouvêa. How did
you meet her? How did Nana become your choice for Black Wake's
main character?
JK: Nana has charisma,
a wild and ferocious energy and a sense of total immersive commitment
to her role. I met her while directing another film and we started
planning how to work together. I had previously worked with
screenwriter Jerry Janda on a short film called Painkiller,
and he had the script for Black Wake with a lead role
appropriate for Nana. Like her in real life, the character in the
film is unafraid to say what she thinks. That seems to shake people
up. It's one of the reasons I wanted to work with her...that
tenacity.
FT: Black Wake is
Nana's first american movie, although she acted in lots of brazilian
TV Series. Tell me about her character and how was her performance?
JK: Nana plays a
scientist named Dr. Luiza Moreira. She's part of a team of experts
investigating a series of murders along the Atlantic coast. Her
character is putting together clues to unravel the mystery. What I
loved about the project was the nature of the monster she's up
against, which seem like infecting parasites and zombies but is
revealed to be something far more apocalyptic. Nana has been
wonderful. She's like a dangerous animal fighting for the right to
live. Her co-star Jonny Beauchamp (from the TV show Penny
Dreadful) talked about the electricity of doing scenes with her
in the Hollywood Reporter. She has enormous strength. I love actors
who are daring and sincere, who commit to the truth of the scene.
That's Nana Gouvêa.
FT: Nana is more
famous in Brazil for things like posing nude for Playboy and, more recently, posing as a model in
areas devastated by Sandy Hurricane. Ultimately, she's a
controversial celebrity in Brazil. Aren't you afraid that your movie
may be watched for the wrong reason here in Brazil (i.e. to criticize
Nana's performance, instead of enjoying the film)?
JK: Maybe this is a
cultural difference. In America, Charlize Theron and Norman Reedus
can start out as models and then be taken very seriously as actors.
Would Brazil judge Theron so harshly? Hollywood is a strange place,
but you can't accuse them of not giving people opportunities and
second chances. The tabloids attacked Robert Downey Jr and Mickey
Rourke, but they persevered by believing in their talent and not
listening to muckrakers. Now nobody gives a damn what the tabloids
said. Black Wake belongs to the larger audience. When we
present the movie, it is no longer ours. It belongs to them. I'm
looking forward to sharing our work with the international audience,
and look forward to screening in Brazil.
FT: In a recent
interview, you said you hated found footage films. Why did you decide
to shoot Black Wake in this style?
JK: Found footage is a
limiting format because you have to justify who is operating the
camera in the story, and why and how are they filming? The script was
written in that style. What helped me was watching documentaries by
filmmakers like Errol Morris and Werner Herzog, seeing how they used
and shaped material to tell a story. I also went back to H.P.
Lovecraft, Bram Stoker's Dracula and Robert Louis Stevenson's
Dr. Jekyll and Mr. Hyde whose stories are composed of letters
and news reports and police case files. So there was a strong
connection between the epistolary writing style and the found footage
film. That enabled me to see the possibilities in the medium.
FT: Eric Roberts
(1985 Academy Awards nominee for Best Support Acting) is also in the
movie. How did you approach him?
JK: I'd previously
worked with Eric Roberts as assistant director on Douglas McGinness's
[short] movie The Epic of Hershey (2015), which
premiered at Cannes. We had a great time on that film. So we reached
out for Black Wake and he brought his unusual intensity to the
set. We also brought on the extraordinary actor Tom Sizemore (from
Saving Private Ryan and Natural Born Killers). He plays
a detective who grows obsessed as he's drawn into the mystery. Tom's
committed to the truth of that moment. Working with him and seeing
how he comes on set ready to play was a genuine privilege.
Eric Roberts |
JK: We'll find out in
2016. Right now we're deep into the editing process, cutting the film
together, figuring out sound design and visual effects elements. That
said, I'm excited about showing the film and we'll release details
about our premiere when the time comes.
FT: When do you plan
to release it in Brazil? Do you have already a distributor for
Brazil?
JK: As Orson Welles
said, "Serve no wine before its time!". We'll announce all
our deals when Carlos Keyes [film producer and Nana's husband]
is ready.
FT: Are you involved
in any other ongoing project?
JK: We are shooting a
film called Pickup written by esteemed playwright Jessica
Blank. Her superb play The Exonerated (co-written with Erik
Jensen) had a great run on Broadway with an amazing cast including
Danny Glover, Susan Sarandon, Brian Dennehy and Tim Robbins. Her
script for us is about sexual addiction consuming a family; powerful
and unnerving. It's filmmaking in a deep dark place...as storytellers
we need to race towards the places we're afraid to go.