O Diabo Mora Aqui é uma prova de que o cinema de terror nacional está ganhando musculatura. O filme, feito de forma independente por jovens cineastas brasileiros estreou no dia 12 de outubro no Festival de Cinema Fantástico da Catalunha (Espanha), o Sitges.
Menos de 20 dias depois, a produção terá sua segunda exibição internacional, desta vez no Morbido Film Festival, do México. Com duração de 80 minutos, O Diabo Mora Aqui será exibido às 14h (horário local da cidade mexicana de Puebla) desta sexta-feira (30), na sala 3 do Cinemex Centro.
O filme mostra quatro jovens, nos dias de hoje, que decidem passar um final de semana numa velha fazenda. O local, na época da escravidão, pertenceu a um cruel fazendeiro, que maltratava seus escravos e acabou sendo alvo de uma maldição.
Mas, como em Evil Dead, esses adolescentes acabam libertando o mal centenário e têm que lutar para sobreviver a ele.
O FICÇÃO TERROR conversou com os dois diretores, Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, que falaram sobre sua carreira e sobre a produção do filme.
Leia a entrevista:
FT: O Diabo Mora Aqui é o primeiro longa metragem de vocês, depois de dirigirem juntos o curta M is for Mailbox. Falem um pouco sobre a trajetória de vocês.
DV: Cinema sempre foi a primeira e única opção pra mim. Desde pequeno, tudo que eu queria era fazer filmes. É a resposta clichê, mas o pior é que é verdade. Tenho fotos minhas com 5 anos segurando claquete e “dirigindo cenas” para provar. Quando veio a faculdade, fui tentando achar meu espaço como roteirista e diretor dentro da minha turma, apesar de nem sempre conseguir. Peguei um pouco de experiência em outras áreas, o que foi bom. Mas de uns anos pra cá, estou tentando me focar só em direção (e roteiro quando tenho a chance). E quanto ao M is for Mailbox, esse foi o curta-metragem que mudou tudo. Foi graças a ele que a gente entrou no mapa do cinema de terror mundial, mesmo que como peixes ainda muito pequenos. E foi graças a ele também que fomos convidados a dirigir O Diabo Mora Aqui.
RG: Eu sempre fui doido por cinema, mas pensar em trabalhar com isso só me ocorreu quando eu tinha 16 anos, antes eu queria ser diplomata, mas percebi que o que eu amava mesmo era cinema, na faculdade eu não tive tanta sorte e nunca consegui fazer um projeto meu e isso foi a melhor coisa que me aconteceu. Graças a essa dificuldade, a gente formou um coletivo chamado “Urubu Filmes” e começamos a fazer curtas e aí a coisa nunca parou e o resultado de tudo isso nos levou ao M is for Mailbox. A partir daí, eu e o Dante fechamos nossa parceria que nos trouxe nosso querido longa O Diabo Mora Aqui.
FT: Vocês não contaram com ajuda governamental para fazer o filme, que teve um orçamento de R$ 250 mil. Como foi que vocês conseguiram viabilizar o projeto?
DV: Cinema de gênero – não só de terror – ainda é muito maldito e marginalizado por aqui, infelizmente. A grande maioria das pessoas que quer fazer cinema de gênero tem que achar outros meios de viabilizar um
projeto que não seja através do governo. No nosso caso, todo o orçamento veio de incentivo privado, ou seja, pessoas (anjos) que investiram uma quantia X no filme e, com isso, ganharam uma porcentagem sobre ele. Fazer (ou tentar fazer) um filme bom com pouco dinheiro não é rápido. Eu e o Rodrigo ouvimos os primeiros boatos de que talvez seríamos convidados a dirigir um longa de terror no final de 2013, enquanto o M is for Mailbox ainda participava da competição do The ABC’s of Death 2. O convite oficial do nosso produtor Marcel Izidoro veio no começo de 2014, mas o nosso amigo e roteirista Rafael Baliú já vinha trabalhando no roteiro desde antes.
RG: Só queria falar que no decorrer da sua carreira, a gente nunca usou nenhum tipo de incentivo do governo, eu particularmente não gosto disso, é um processo demorado que te prende muito, a gente sempre foi rápido e por isso tivemos a sorte de dirigir um longa na nossa idade.
FT: Quanto tempo demorou entre o roteiro e a primeira exibição? Onde ele foi filmado?
DV: Levando em conta a primeira linha escrita do roteiro pelo Rafael e a exibição em Sitges, foram quase dois anos.O filme foi rodado em Amparo, uma cidade no interior de São Paulo, a umas 3 horas da capital. Filmamos na fazenda da família do nosso amigo, primeiro assistente de direção e colaborador-chave na história do filme, Guilherme Aranha. A fazenda é muito antiga, centenária, construída realmente na época da escravidão. Frequentamos essa fazenda durante a faculdade, em festas e coisas do tipo e até mesmo pra fazer um curta muitos anos atrás, mas sempre conversamos sobre (e sempre foi a vontade do Guilherme) fazer um longa-metragem lá.
FT: O elenco conta com atores profissionais, que já trabalharam ou estão trabalhando em grandes canais de televisão. Vocês podem falar um pouco sobre o processo de escolha dos atores?
DV: A gente sempre soube que achar o elenco certo ia ser um dos maiores desafios do filme, se não o maior. O filme é cheio de atuações tensas e momentos tensos de gritaria, choro e reações extremas, mas ele também tem muitos momentos casuais e descontraídos no começo, quando as coisas ainda estão se construindo. Ou seja, precisávamos achar um elenco que conseguiria alcançar uma veracidade grande nas cenas extremas e uma veracidade talvez ainda maior nas cenas descontraídas. Não tem nada pior do que um filme de gênero ou de terror onde aparece um grupo de jovens/adolescentes e, nos primeiros 15 minutos, você, como espectador, não vê a hora deles morrerem, de tão chatos e superficiais que eles são. Queríamos evitar isso de qualquer maneira. Quando o processo da seleção de casting começou, estávamos a procura justamente disso; pessoas que atuassem bem, mas que parecessem com gente como a gente, que trouxessem uma naturalidade pro filme. Naturalidade foi também uma palavra-chave durante os ensaios. Conversamos muito com o elenco sobre abandonar alguns vícios e maneirismos físicos e de voz que são muito ligados a TV e ao teatro, que simplesmente não funcionam no cinema, muito menos no cinema de gênero. É uma linguagem completamente diferente e fizemos muita questão de tentar buscar um estilo de atuação diferente do que costuma se ver por aqui; uma atuação mais natural e real, apesar de ter a sua própria linguagem dentro do universo do cinema de gênero.
RG: Costumo falar que nossa maior arma foram os atores, eles foram nosso maior achado e conseguimos atingir coisas bem difíceis em termos de atuações. Tenho muito orgulho do nosso elenco.
FT: O Diabo Mora Aqui estreou no festival internacional de cinema da Catalunha, o Sitges. Como foi essa experiência e a recepção do filme lá?
DV: O Festival de Sitges é um dos maiores e mais tradicionais festivais de cinema do mundo e, sem dúvida, o maior e mais incrível festival que eu já fui. A sensação que eu tinha andando por ele, vendo tantos ídolos de infância e pessoas renomadas reunidos num lugar só, era de que eu finalmente tinha entrado no mundo do cinema, mesmo que só por alguns dias. Lá é onde o cinema de gênero acontece. Onde as principais vozes do mundo inteiro se reúnem e trocam experiências, criam novos projetos, assinam contratos e fazem acontecer. A recepção do filme foi bem legal. Tivemos uma única exibição, mas essa exibição encheu a sala. Assistindo o filme junto com a plateia, vimos que as pessoas riam quando a gente queria que elas rissem, ficavam em silêncio de tensão e apreensão nas cenas tensas, por aí vai.
RG: Sitges foi a coisa mais mágica da minha carreira, realmente é um festival de amor por cinema!
FT: Depois da Espanha, o filme vai para o México...
DV: Logo depois de Sitges o filme vai para o México, na cidade de Puebla, onde acontece o Morbido Film Festival, outro festival de cinema de gênero grande e renomado. É uma felicidade enorme que o nosso filme tenha começado sua carreira em festivais há duas semanas só e já tenha entrado em dois dos principais festivais de cinema fantástico do mundo.
FT: Vocês já estão em contato com alguma distribuidora para distribuição nos cinemas?
DV: Estamos em contato e tendo conversas com algumas distribuidoras, mas nada fechado ainda.
RG: “Onde há uma vontade, há um caminho”. Acredito cegamente nisso. Foi assim que tudo nasceu, da vontade de fazer um longa. Eu acredito que chegaremos no cinema, já que a repercussão do filme está sendo incrível e acabamos de começar a carreira do nosso longa em festivais!
FT: Vocês já estão trabalhando em algum novo projeto? Será um longa de terror?
DV: Não começamos a produzir um novo longa ainda, mas estamos com algumas ideias engatilhadas. O próximo provavelmente vai ser um outro filme de terror, mas, como fãs de cinema de gênero, queremos sim brincar com outros gêneros no futuro.
RG: Temos varias ideias e elas envolvem criaturas clássicas que amamos. Vamos ver o que acontecerá, mas prometemos coisas bem legais pro futuro! Tenho um outro projeto por fora que deve ser concluído esse ano e é um desenho animado.
Menos de 20 dias depois, a produção terá sua segunda exibição internacional, desta vez no Morbido Film Festival, do México. Com duração de 80 minutos, O Diabo Mora Aqui será exibido às 14h (horário local da cidade mexicana de Puebla) desta sexta-feira (30), na sala 3 do Cinemex Centro.
Cartaz do filme no festival mexicano |
O filme mostra quatro jovens, nos dias de hoje, que decidem passar um final de semana numa velha fazenda. O local, na época da escravidão, pertenceu a um cruel fazendeiro, que maltratava seus escravos e acabou sendo alvo de uma maldição.
Mas, como em Evil Dead, esses adolescentes acabam libertando o mal centenário e têm que lutar para sobreviver a ele.
O FICÇÃO TERROR conversou com os dois diretores, Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, que falaram sobre sua carreira e sobre a produção do filme.
Rodrigo Gasparini |
Leia a entrevista:
FT: O Diabo Mora Aqui é o primeiro longa metragem de vocês, depois de dirigirem juntos o curta M is for Mailbox. Falem um pouco sobre a trajetória de vocês.
DV: Cinema sempre foi a primeira e única opção pra mim. Desde pequeno, tudo que eu queria era fazer filmes. É a resposta clichê, mas o pior é que é verdade. Tenho fotos minhas com 5 anos segurando claquete e “dirigindo cenas” para provar. Quando veio a faculdade, fui tentando achar meu espaço como roteirista e diretor dentro da minha turma, apesar de nem sempre conseguir. Peguei um pouco de experiência em outras áreas, o que foi bom. Mas de uns anos pra cá, estou tentando me focar só em direção (e roteiro quando tenho a chance). E quanto ao M is for Mailbox, esse foi o curta-metragem que mudou tudo. Foi graças a ele que a gente entrou no mapa do cinema de terror mundial, mesmo que como peixes ainda muito pequenos. E foi graças a ele também que fomos convidados a dirigir O Diabo Mora Aqui.
RG: Eu sempre fui doido por cinema, mas pensar em trabalhar com isso só me ocorreu quando eu tinha 16 anos, antes eu queria ser diplomata, mas percebi que o que eu amava mesmo era cinema, na faculdade eu não tive tanta sorte e nunca consegui fazer um projeto meu e isso foi a melhor coisa que me aconteceu. Graças a essa dificuldade, a gente formou um coletivo chamado “Urubu Filmes” e começamos a fazer curtas e aí a coisa nunca parou e o resultado de tudo isso nos levou ao M is for Mailbox. A partir daí, eu e o Dante fechamos nossa parceria que nos trouxe nosso querido longa O Diabo Mora Aqui.
FT: Vocês não contaram com ajuda governamental para fazer o filme, que teve um orçamento de R$ 250 mil. Como foi que vocês conseguiram viabilizar o projeto?
DV: Cinema de gênero – não só de terror – ainda é muito maldito e marginalizado por aqui, infelizmente. A grande maioria das pessoas que quer fazer cinema de gênero tem que achar outros meios de viabilizar um
projeto que não seja através do governo. No nosso caso, todo o orçamento veio de incentivo privado, ou seja, pessoas (anjos) que investiram uma quantia X no filme e, com isso, ganharam uma porcentagem sobre ele. Fazer (ou tentar fazer) um filme bom com pouco dinheiro não é rápido. Eu e o Rodrigo ouvimos os primeiros boatos de que talvez seríamos convidados a dirigir um longa de terror no final de 2013, enquanto o M is for Mailbox ainda participava da competição do The ABC’s of Death 2. O convite oficial do nosso produtor Marcel Izidoro veio no começo de 2014, mas o nosso amigo e roteirista Rafael Baliú já vinha trabalhando no roteiro desde antes.
RG: Só queria falar que no decorrer da sua carreira, a gente nunca usou nenhum tipo de incentivo do governo, eu particularmente não gosto disso, é um processo demorado que te prende muito, a gente sempre foi rápido e por isso tivemos a sorte de dirigir um longa na nossa idade.
Dante Vescio |
DV: Levando em conta a primeira linha escrita do roteiro pelo Rafael e a exibição em Sitges, foram quase dois anos.O filme foi rodado em Amparo, uma cidade no interior de São Paulo, a umas 3 horas da capital. Filmamos na fazenda da família do nosso amigo, primeiro assistente de direção e colaborador-chave na história do filme, Guilherme Aranha. A fazenda é muito antiga, centenária, construída realmente na época da escravidão. Frequentamos essa fazenda durante a faculdade, em festas e coisas do tipo e até mesmo pra fazer um curta muitos anos atrás, mas sempre conversamos sobre (e sempre foi a vontade do Guilherme) fazer um longa-metragem lá.
FT: O elenco conta com atores profissionais, que já trabalharam ou estão trabalhando em grandes canais de televisão. Vocês podem falar um pouco sobre o processo de escolha dos atores?
DV: A gente sempre soube que achar o elenco certo ia ser um dos maiores desafios do filme, se não o maior. O filme é cheio de atuações tensas e momentos tensos de gritaria, choro e reações extremas, mas ele também tem muitos momentos casuais e descontraídos no começo, quando as coisas ainda estão se construindo. Ou seja, precisávamos achar um elenco que conseguiria alcançar uma veracidade grande nas cenas extremas e uma veracidade talvez ainda maior nas cenas descontraídas. Não tem nada pior do que um filme de gênero ou de terror onde aparece um grupo de jovens/adolescentes e, nos primeiros 15 minutos, você, como espectador, não vê a hora deles morrerem, de tão chatos e superficiais que eles são. Queríamos evitar isso de qualquer maneira. Quando o processo da seleção de casting começou, estávamos a procura justamente disso; pessoas que atuassem bem, mas que parecessem com gente como a gente, que trouxessem uma naturalidade pro filme. Naturalidade foi também uma palavra-chave durante os ensaios. Conversamos muito com o elenco sobre abandonar alguns vícios e maneirismos físicos e de voz que são muito ligados a TV e ao teatro, que simplesmente não funcionam no cinema, muito menos no cinema de gênero. É uma linguagem completamente diferente e fizemos muita questão de tentar buscar um estilo de atuação diferente do que costuma se ver por aqui; uma atuação mais natural e real, apesar de ter a sua própria linguagem dentro do universo do cinema de gênero.
RG: Costumo falar que nossa maior arma foram os atores, eles foram nosso maior achado e conseguimos atingir coisas bem difíceis em termos de atuações. Tenho muito orgulho do nosso elenco.
FT: O Diabo Mora Aqui estreou no festival internacional de cinema da Catalunha, o Sitges. Como foi essa experiência e a recepção do filme lá?
DV: O Festival de Sitges é um dos maiores e mais tradicionais festivais de cinema do mundo e, sem dúvida, o maior e mais incrível festival que eu já fui. A sensação que eu tinha andando por ele, vendo tantos ídolos de infância e pessoas renomadas reunidos num lugar só, era de que eu finalmente tinha entrado no mundo do cinema, mesmo que só por alguns dias. Lá é onde o cinema de gênero acontece. Onde as principais vozes do mundo inteiro se reúnem e trocam experiências, criam novos projetos, assinam contratos e fazem acontecer. A recepção do filme foi bem legal. Tivemos uma única exibição, mas essa exibição encheu a sala. Assistindo o filme junto com a plateia, vimos que as pessoas riam quando a gente queria que elas rissem, ficavam em silêncio de tensão e apreensão nas cenas tensas, por aí vai.
RG: Sitges foi a coisa mais mágica da minha carreira, realmente é um festival de amor por cinema!
FT: Depois da Espanha, o filme vai para o México...
DV: Logo depois de Sitges o filme vai para o México, na cidade de Puebla, onde acontece o Morbido Film Festival, outro festival de cinema de gênero grande e renomado. É uma felicidade enorme que o nosso filme tenha começado sua carreira em festivais há duas semanas só e já tenha entrado em dois dos principais festivais de cinema fantástico do mundo.
FT: Vocês já estão em contato com alguma distribuidora para distribuição nos cinemas?
DV: Estamos em contato e tendo conversas com algumas distribuidoras, mas nada fechado ainda.
RG: “Onde há uma vontade, há um caminho”. Acredito cegamente nisso. Foi assim que tudo nasceu, da vontade de fazer um longa. Eu acredito que chegaremos no cinema, já que a repercussão do filme está sendo incrível e acabamos de começar a carreira do nosso longa em festivais!
FT: Vocês já estão trabalhando em algum novo projeto? Será um longa de terror?
DV: Não começamos a produzir um novo longa ainda, mas estamos com algumas ideias engatilhadas. O próximo provavelmente vai ser um outro filme de terror, mas, como fãs de cinema de gênero, queremos sim brincar com outros gêneros no futuro.
RG: Temos varias ideias e elas envolvem criaturas clássicas que amamos. Vamos ver o que acontecerá, mas prometemos coisas bem legais pro futuro! Tenho um outro projeto por fora que deve ser concluído esse ano e é um desenho animado.