Entrevista com roteirista e diretor de PALAVRAS DIABÓLICAS, Roze

Palavras diabólicas tem lançamento previsto nos cinemas brasileiros para 22 de outubro


Numa pequena cidade norte-americana, todas as crianças desaparecem. Três dias depois, todas elas reaparecem, mas elas não são mais as mesmas. Algo aconteceu com elas, quando estavam desaparecidas e, agora, parecem estar possuídas por uma força maligna.

Esse é o pano de fundo para Palavras Diabólicas, filme do diretor e roteirista americano que se identifica apenas como Roze, que chega às telas dos cinemas brasileiros em 22 de outubro, dois anos depois de ser lançado nos Estados Unidos.

Roze nasceu em 1974, no estado norte-americano do Michigan. Depois de dez anos como cantor e guitarrista, ele quebrou seu pulso e teve que dar um tempo na música. Dali, ele acabou numa escola de cinema, onde começou sua carreira no cinema, estabelecido em Phoenix, no Arizona.

“Eu era um analfabeto cinematográfico [quando entrei na escola de cinema], mas, de alguma forma, eu acredito que essa foi uma vantagem. Eu me aproximei dessa forma de arte de uma maneira diferente dos outros que estudavam cinema desde jovens. Eu não tinha ideias preconcebidas sobre o que era preciso para um filme ser bom. Eu me senti como um cientista, fazendo novas descobertas a cada vez que eu pegava a câmera”.

Roze (Divulgação)

Leia a entrevista:

FT: Palavras Diabólicas é seu segundo filme, produzido depois de Deadfall Trail (2009), e também feito de forma independente. Como foi fazer esse filme?
R: É incrível que um filme independente consiga ser produzido. Há inúmeros obstáculos para um cineasta no início de sua carreira. Para começar, ninguém te paga para escrever o roteiro. Você faz isso por paixão, usando cada momento livre que você tem para escrever. Jovens roteiristas não têm qualquer orientação profissional e recebem “notas” de pessoas e mentores que são educados no ofício mas raramente tiveram alguma experiência profissional para tomar como referência. Você está meio que por conta própria. O financiamento de um filme independente é realmente um milagre por si só. Ninguém em Hollywood te leva a sério, então você tem que buscar o dinheiro fora da indústria cinematográfica. Geralmente, esse tipo de investidor é difícil de achar e entende pouco de cinema. Você primeiro tem que educá-los no processo antes mesmo de falar sobre seu roteiro. São duas vendas em uma. Quando a maioria dos meus contemporâneos estavam estudando a câmera e a atuação, eu focava em aprender como fazer um plano de negócios e chegar até o investidor. Essa é uma arte por si só.

FT: Qual foi o orçamento do filme?
R: Eu escrevi o roteiro para caber em um orçamento de 160 mil dólares. Eu fiz um filme para se encaixar nessas limitações. Necessidade é realmente a mãe da invenção. Eu sempre acreditei que você pode fazer qualquer filme com qualquer orçamento, você só precisa saber onde você fará seus ajustes. Foi por isso que, no início da minha carreira, eu desenhei filmes que se encaixassem num orçamento, em vez de calcular um orçamento que se encaixasse no filme.

FT: E como foi para escolher os atores?
R: Meu elenco e minha equipe vieram principalmente da comunidade cinematográfica de Phoenix, no Arizona. Eu dei aulas de produção de filmes em uma pequena escola de cinema e estava conectado com centenas de pessoas do local, que tinham uma paixão por filmes. Essas eram as pessoas com quem eu queria trabalhar e nós nos tornamos uma família no processo. Uma vez que estávamos no set de filmagem, tudo se encaixou em seu devido lugar. Havia alguns dias difíceis e muitos ajustes foram feitos, mas eu nunca tive dúvidas enquanto eu dirigia este filme. Estou em meu “elemento natural” quando estou num set. Eu durmo melhor à noite, perco um pouco de peso e vivo sem a ansiedade por algum tempo. A vida no set é um circo vivo onde eu me sinto feliz.

FT: Como foi a recepção de Palavras Diabólicas nos Estados Unidos?
R: Acho que as pessoas realmente gostaram do filme. Nós rodamos os Estados Unidos e lançamos os filmes nos cinemas por conta própria. Eu gosto de interagir com as pessoas que assistem ao filme e ficava depois para uma sessão de perguntas e respostas. As reações eram diversas entre os diferentes públicos. Em Los Angeles, as pessoas se ofenderam com a violência contra as crianças, enquanto nos Comic Cons (encontros que reúnem fãs de quadrinhos, cinema e ficção científica), o público vibrou quando atiramos na cabeça de uma criança possuída. Nós lançamos o filme logo depois do tiroteio na escola Sandy Hook [em que um atirador matou cerca de 20 crianças em uma escola de ensino fundamental de Connecticut, nos Estados Unidos, em 2012]. O filme desencadeou muitas discussões interessantes sobre o impacto da violência midiática na sociedade. Eu não acredito que a arte faça pessoas matarem outras pessoas ou crianças. Muitos concordam comigo, outros não. Mas o mais importante é que o filme fez com que as pessoas discutissem a violência armada.

FT: Quando você terminou de filmar Palavras Diabólicas, você imaginava que alcançaria cinemas de outros países?
R: Eu trabalhei brevemente com vendas internacionais e pude compreender como o processo funcionava. Eu sabia que, eventualmente, Palavras Diabólicas atingiria uma audiência internacional. O mais legal é ver a recepção positiva que o filme teve em outros países e culturas.

FT: Até agora, você produziu seus filmes de forma independente. Você planeja algum dia trabalhar com um grande estúdio? Essa é uma meta profissional para você?
R: Sinto que estou finalmente entendendo essa forma de arte e realmente desejo explorar os limites dela. Não estou certo de se terei uma oportunidade no sistema de estúdios. Dito isso, estou perseguindo projetos comerciais maiores pela experiência. Amo fazer coisas novas, especialmente esforços criativos. Mas, ao mesmo tempo, também tenho alguns filmes independentes em andamento. Eu geralmente me sinto como um cientista explorando novos mundos, quando eu pego uma câmera. Filmes independentes me permitem fazer isso.

Roze no set de Palavras Diabólicas (Divulgação)
FT: Você está agora produzindo um filme chamado Dead Quiet, sobre um casal que decide passar a noite em um edifício que eles acabaram de herdar, para provar a um potencial comprador de que ele não é assombrado. Quando você planeja lançá-lo?
R: Ouvi dizer que os produtores estão planejando lançá-lo durante a primavera [que vai de março a maio nos Estados Unidos], mas você nunca sabe como essas coisas se desenrolam. É um bom filme. Eu também trabalhei como diretor de fotografia. Eu realmente curti o processo e espero continuar a fazer isso em projetos maiores.

FT: Você também está envolvido em um projeto chamado ZombieMap App (veja abaixo do que se trata), que você planejava viabilizar através de crowdfunding. Você ainda tem planos de lançá-lo?
R: Minha outra paixão na vida é a fusão de arte, entretenimento e tecnologia. Zombie Map é um de muitos projetos. Eu vou continuar a persegui-lo. Na verdade, os lucros com a distribuição de Palavras Diabólicas estão financiando projetos esquisitos como esse. Quero criar novas formas de interação das pessoas com mídias. Acredito que os únicos limites que os cineastas têm são os quatro cantos de uma tela de cinema. Gostaria de ver o que acontece quando nós empurramos os limites do frame.

FT: Quais são suas expectativas em relação ao lançamento de Palavras Diabólicas nos cinemas brasileiros neste mês?
R: Eu sinceramente espero que as pessoas gostem do filme. As pessoas verão que não é como outros filmes de terror. Alguns vão gostar, outros não, mas tudo bem. De qualquer forma, eu convido vocês a entrar em contato comigo para dizer o que você acha sobre o filme através do Facebook.

*Zombie Map App é um aplicativo que incentivará pessoas em todo o mundo a produzirem curtas metragens mostrando ataques de zumbis e promoverem passeatas zumbis. Através do aplicativo, o link do filme será jogado em um ponto específico do mapa. Para assistir a cada vídeo, bastará clicar no ponto do mapa.

**Palavras Diabólicas tinha lançamento previsto, inicialmente, para 8 de outubro.


INTERVIEW WITH SPEAK NO EVIL'S DIRECTOR AND SCREENWRITER, ROZE

Speak no Evil will open in brazilian theatres on October, 22

In a small US town all the kids suddenly vanish. After three days, they're back, but they're not the same. Something's happened when they were gone. Now they look possessed by evil forces.

This is the plot of Speak no Evil, a film by the american director and screenwriter Roze, that will open in brazilian theatres on October, 22, two years after premiering in the US.

Roze was born in 1974, in Michigan. After 10 years performing as singer and guitar player, he broke his wrist and had to quit, ending up in a film school. Then he began a career in film industry.

“I was completely film illiterate [in cinema] but somehow I believe this was an advantage. I approached the artform differently than the other students who had been studying cinema from a very young age. I had no preconceived notions of what made a film good. I felt like a scientist, making new discoveries everytime I picked up the camera”, says Roze.


FT: Speak no Evil is your second feature film, just after Deadfall Trail. SNE is na independent production. Tell me about the process of making it.
R: It is amazing that an independent film ever gets made. There are countless obstacles for a filmmaker early on in their career. To start - no one is paying you to write the screenplay. You are doing it as a work of passion, using every spare moment you have to write. Young screenwriters have no professional guidance and are receiving notes from people and mentors who are educated in the craft but rarely have professional experience to reference. You are kind of on your own. Financing an independent film is truly a miracle in itself. No one in Hollywood takes you seriously, so you have to go outside of the industry to find money. Often this kind of investor is hard to find and know very little about the film business. You first have to educate them on the process before you can even start talking about your script. It is two sales in one. When most of my contemporaries where studying the camera or acting I focused on learning how to write a business plan and how to talk to investors. It is an artform in itself.

FT: What was the film budget?
R: I wrote the script to fit a $160K budget. We made the film fit those limitations. Necessity is truly the mother of invention. I always believed you can make any film for any budget - you just need to know where you are going to make your compromises. That is why at the beginning of my career I designed my films around the budget rather than the budget for the film.

FT: What about the casting?
R: My cast and crew mainly came from the local film community in Phoenix, Arizona. I taught film production at a tiny film school and was connected to hundreds of local people who had a passion for film. These were the people I wanted to work with and we became a family in the process. Once I was on set everything fell into place. There was a couple of tough days and many compromises made, but I never felt doubt while directing this film. I am in my natural element while on a film set. I sleep better at night, lose a little weight and I live without anxiety for a little while. Set life is a living breathing circus that I rejoice in.

FT: How was the reception for Speak no Evil in the US?
R: I think people really liked the film. We drove across the US and released the film theatrically ourselves. I got to interact with the people watching the film and stayed behind for the Q&A sessions. The responses were different among different crowds. In LA people were offended by the violence toward children while in the comicons people cheered when we shot a deomic child in the head. We released the film in the same year the mass shooting happened at the Sandy Hook Elementary School. The film provoked many interesting conversations about the impact violent entertainment has on society. I don't believe art makes people kill another person or child. Many people agree with me and other do not. But, what is important is that the film got people talking about gun violence.

Roze com a atriz Gabrielle Stone (divulgação)


FT: When you finished Speak no Evil, did you expect, back then, to reach foreign theatres?
R: I had worked briefly in international sales and understood how the process worked. I knew eventually Speak No Evil would get out to a wider internation audience. What is exciting is to see how positive the film is received in other countries and cultures.

FT: So far you produced movies independently. Do you plan to work with major studios someday? Is that something that you really work for?
R: I feel like I am finally understanding this artform and I really desire to explore the limits of it. I am not sure I will get that opportunity in the studio system. That being said, I am pursuing larger commercial projects for the experience. I love doing new things, especially new creative endeavors. But, I also have a number of independent films in development as well. I often still feel like a scientist exploring new worlds when I pick up that camera. Independent films enable me to do that.

FT: You’re shooting now a movie called Dead Quiet. What’s it about? When do you plan to release it?
R: I hear the producers are planning a spring time release, but you never know how these things roll out. It is a good little film. I also served as cinematographer and really enjoyed that process. It is something I hope to continue to do on larger projects.

FT: You’re also involved in a project called Zombie Map App, that you planned to finance through crowdfunding? Do you still plan to launch it?
R: My other passion in life is the merger of art, entertainment and technology. Zombie Map is one of many projects I will continue to pursue. In fact the profits from the Speak no Evil distribution is funding weird projects like it. I want to create new ways for people to interract with media. I think the only boundaries a filmmaker has are the four corners of the movie screen. I am look forward to see what happens when we push past the edge of the frame. 

FT: What are your expectations regarding the release of Speak no Evil in brazilian theatres this october?

R: I honestly hope people like the film. People are going to see that it is not like all other horror films. Some people are going to like it and others are not and that is OK. Either way I invite you to reach out to me via the facebook page. Let me know what you think.