Blog FICÇÃO TERROR falou com exclusividade com o diretor e roteirista do filme, que estreou hoje nos cinemas do país
A Possessão do Mal (The Possession of Michael King, de 2014) estreou nesta quinta-feira (1o) nos cinemas brasileiros, um ano depois de sua estreia nos Estados Unidos. O filme conta a história de um cineasta cético que perde sua esposa e, durante seu luto, resolve fazer um documentário para provar que o sobrenatural não existe.
Para mostrar sua teoria, ele desafia o demônio a se apossar dele próprio e se submete a vários rituais pesados de magia negra para atrair a atenção do diabo. O problema é que sua teoria está errada: o sobrenatural existe e ele terá que lidar com as forças do mal.
A Possessão do Mal é o filme de estreia do diretor e roteirista David Jung, com quem o blog FICÇÃO TERROR conversou hoje, com exclusividade.
De Los Angeles, David Jung conversou com o autor do blog por cerca de 20 minutos, através do Skype, para falar sobre sua carreira, o filme e seus futuros projetos.
Confira a entrevista:
FT: A
Possessão do Mal estreou nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros. Qual a sua expectativa?
DJ: Outubro é sempre um bom mês para lançamentos de
filmes de terror por ser o mês do Halloween. O filme foi muito bem recebido
aqui nos Estados Unidos, com muitas resenhas positivas. Eu não sei se o público
no Brasil, no que se trata de filmes de terror, seguem a mesma linha do público
daqui. Eu não sei qual é o clima daí para filmes de terror, mas estou otimista
de que seja bem recebido. Isso também depende de que filmes de terror estão
passando nos cinemas, nesse momento, no Brasil. Mas se não tiver muita coisa no
mercado, é sempre melhor para um filme. Sempre haverá fãs de terror e, se não
houver mais nada para assistir, nós vamos nos beneficiar disso (risos).
FT: Você é um ex-executivo de estúdios como a Disney e a Paramount e lançou seu
primeiro filme no ano passado. Conta um pouco sobre esse caminho que você
trilhou.
DJ: Eu comecei trabalhando no Estúdio de Roger Corman,
um grande produtor cinematográfico, conhecido com o rei dos filmes B. Ele fez,
provavelmente, 500 filmes, dando início à carreira de muitos diretores, atores
e roteiristas talentosos. Eu fiz seis filmes com ele. Então, consegui um
emprego nos Estúdios Walt Disney e na Paramount. E eu estava trabalhando a
frente de uma grande produtora aqui nos Estados Unidos, quando um amigo meu
entrou em contato comigo sobre um roteiro que eu tinha escrito e eu acabei
deixando essa produtora. E comecei a escrever filmes. Eu escrevi vários filmes
para todos os grandes estúdios aqui de Hollywood e eu percebi que escrevia
essas histórias muito caras e, em muitas delas, a não ser que você tivesse o
ator e o diretor certos, é difícil aprovar um orçamento de 50 milhões ou 100
milhões de dólares. Então muitas das coisas que eu estava escrevendo acabavam
em alguma gaveta. Eu as vendia e fazia dinheiro com elas, mas eu não era mais o
dono delas e, por isso, elas nunca sairiam do papel. Então eu e um amigo
fizemos uma aposta em que ambos iríamos escrever filmes de terror. Filmes de
terror que poderíamos filmar nos porões das nossas casas, se fosse preciso, sem
visar o dinheiro. Nós escreveríamos, dirigiríamos esses filmes e faríamos
acontecer, de alguma forma. Nós tentamos escrevê-los com o menor orçamento
possível. Ele acabou conseguindo financiamento para o dele. Eu escrevi o meu e
tive sorte em ter cinco estúdios diferentes fazendo ofertas para esse filme.
Tempo e sorte têm tudo a ver com que acontece no mercado cinematográfico. Filmes
de terror em estilo documentário estavam indo muito bem, então tive a
oportunidade de fazer esse filme nesse estilo e foi legal.
FT: Como surgiu a ideia do filme, que conta a história
de um marido enlutado e cético desafiando o demônio depois da morte da esposa?
DJ: Eu sempre tive um conflito pessoal com a religião.
Quando eu era criança, eu cresci numa família católica, indo à igreja aos
domingos. Quando fiquei mais velho, eu me tornei um aficionado por História. E quanto
mais eu me deparava com a história da religião, mais eu pessoalmente achava que
a religião causou muitos problemas ao longo da História. Meu sentimento pessoal
teve um papel importante nesse personagem Michael King. Ele é um documentarista
cético em relação à religião e tem uma mulher religiosa. Ela morre atropelada
por um carro, quando eles estavam planejando passar umas férias na Europa. Isso
porque uma vidente diz para ela que ela precisa ficar em sua cidade por causa
de uma grande oportunidade na carreira dela e, se ela tirar férias na Europa, vai
perder essa oportunidade. Por causa da vidente, ela fica na cidade e está
naquele local exato quando é atingida pelo carro. Seu marido tem um colapso
nervoso por causa disso. “Se ela não tivesse ouvido a vidente, nós estaríamos
na Europa e ela nunca teria sido atingida por aquele carro. As coisas seriam
diferentes e eu ainda a teria”. Ele pensa: o que dá a essa mulher o direito de
ditar o rumo da vida de outras pessoas do jeito que os videntes e as religiões fazem?
Eu pensei que essa era uma premissa interessante: um cineasta que está tentando
se recuperar da morte da esposa e, espiritualmente, tentando se encontrar nesse
processo. Que lugar melhor para colocar a pessoa em um ponto em que, de um
lado, você quer provar para o mundo que o sobrenatural não existe para que o
mundo possa superar coletivamente esse conceito medieval de religião e, de
outro, ele está desesperado para saber se há algo além e que sua mulher está
num lugar melhor.
FT: Depois dessa experiência de fazer um filme no estilo
found footage, você se envolveu um novo projeto, chamado Roam, que é um filme
que mistura tomadas mais tradicionais com cenas gravadas do ponto de vista dos
personagens.
DJ: Roam [sigla de Rider of Another Mortal, ou algo como
Passageiro de Outro Mortal] dá um leve toque de ficção científica ao gênero do terror. A ideia é:
e se houvesse uma empresa que, através da tecnologia, permitisse aos muito
ricos dar uma voltinha através do corpo de outra pessoa? E eles têm um certo
tempo para aproveitar a carona naquele corpo e, porque não é o seu corpo, eles
têm a liberdade de sair por aí e fazer o que eles tiverem vontade: estuprar,
saquear, espancar e fazer tudo o que sempre quiseram fazer mas tinham medo das
consequências. É algo em que estou trabalhando, ainda nos estágios iniciais, de
pré-produção, junto com alguns outros filmes.
FT: Você tem alguma ideia de quando Roam será lançado?
DJ: Ainda não tenho nada em mente, por enquanto, porque
provavelmente estarei filmando um outro filme chamado The King of Sting, que é
baseado em um livro de Craig Glazer, sobre a história real de um jovem de 18
anos que iria para a Universidade Estadual do Arizona, na década de 70, e não
conseguiria se manter na faculdade. E ele teve uma ideia doida para se unir a
um veterano do Vietnã e fingir que é policial infiltrado. Ele começa a enganar traficantes
de drogas colombianos e a máfia. Eles montaram um elaborado esquema em que
simulavam negociações com os criminosos e, quando a máfia mostrava o dinheiro,
eles mostravam distintivos falsos e armas e diziam ser policiais infiltrados.
Carros falsos de polícia chegavam, pessoas entravam com o pé na porta se
dizendo policiais. Todas pessoas pagas para fazerem parte desse esquema. Eles
faturaram milhões de dólares e esse jovem de 18 anos comprou uma mansão
gigantesca próxima ao campus, até que a máfia o localizou. Eles estavam
preparados para matá-lo quando ele foi resgatado pela DEA [Agência Americana
Antidrogas]. Ele acaba se tornando o agente especial mais jovem dos Estados
Unidos, porque ele sabia tanto sobre a máfia e os cartéis que a DEA o
contratou. Eu acabei de terminar o segundo rascunho do roteiro para Mayhem
Studios. Nós vamos começar a reunir o elenco para esse filme em breve. É um
grande desvio do cinema de terror.
FT: É um filme de ação?
DJ: É um filme de true crime (crimes que realmente aconteceram). É o
mesmo tipo de filme que Prenda-me se for Capaz (2002), Os Bons Companheiros
(1990) e Cassino (1995), um filme estilo Martin Scorsese. Ele pode vir até
antes de concluir Roam. Nesse caso, Roam vai ser adiado para um pouco mais para
frente.
FT: Bem, sucesso em seus novos projetos e em Possessão do Mal
que está começando a ser exibido aqui no Brasil.
DJ: Espero que A
Possessão do Mal seja abraçado pelo Brasil. Eu me diverti muito o fazendo,
então espero que as pessoas gostem. INTERVIEW WITH THE POSSESSION OF MICHAEL KING'S DIRECTOR AND SCREENWRITER, DAVID JUNG
The Possession of Michael King (2014) opened on brazilian theatres this thursday, a year after its release in the US. The movie is about a skeptical filmmaker whose wife is killed in a car accident. After her death, he decides to make a documentary to prove that the supernatural doesn't exist.
To prove his theory, he challenges the devil to possess his body and submits himself to a number of black magic rituals, in order to attract evil. The problem is: his wrong about his theory and the supernatural really exists. Soon he'll have to deal with malevolent forces.
The Possession of Michael King is the first feature film of director and screenwriter David Jung.
Read the interview:
FT: The Possession of Michael King opened in brazilian theatres this thursday. What are your expectations about it?
DJ: The movie was received really well here in the States, with really great reviews. It's been very positive. I don't know if the public in Brazil, when it comes to horror films, fall along the same lines as they do here. I don't know what the temperature is there for horror films, but I'm optmistic that it should be received well. It also depends on what's in the theatres right now. I don't know what else came out recently in Brazil in the horror genre, but if there's not that much in the marketplace, that's always better for a film. There's always gonna be horror fans and if they don't have anything else to watch, then we'll reap the benefit of that.
FT: You are a former executive that worked in studios like Disney and Paramount and you've released your first feature film last year. Tell me about this course you followed.
DJ: I worked at Roger Corman Studios, a huge movie producer, known as The King of the B Movies, that's made probably 500 films and given the start to a lot of talents, directors, actors, writers. So I made six movies with him and then got a job at Walt Disney Studios. Then, I was at Paramount. And I was working running a big producer's company here in the States, when a friend contacted me about a script that I've written and I ended up leaving the production company that I was at and I started writing films. I wrote a handful of films for all of the major studios here in Hollywood and got to the point that I was writing all of these really expensive features and a lot of them, unless a lightning strikes and you got the right actor and the right director, it's hard to sign off on a budget of 50 to 100 million dollars. So a lot of things I was writing were ending up sitting on a shelf somewhere. I would sell them and I would make money off of them, but I wouldn't own them any longer and they were never gonna see the light of day. So a friend of mine and I made a handshake bet that we were each going to write horror films. And horror films that we could shoot in the basements of our own homes, if we had to for no money. We were gonna write and direct these films and we were gonna make it happen, somehow. We tried to write them as contained and as low budget as possible. With that in mind, he wrote his and he actually got financing for his. And I wrote mine and I was lucky that I had five different studios making offers and wanted to make this film. Lucky and timing have some much to do with what happens in the film business. At least, from what I've seen. Documentary style horror films were doing really, really well, so I had an opportunity to make this movie in that style and I took it. And it was great.
FT: How did you come up with this idea of a mourning skeptical husband daring the devil after the death of his wife?
DJ: I've always had a personal struggle with religion. When I was a kid, I grew up in a catholic family and I went to church every sunday. Afterwards, as I got older I became a history buff. And the more I was exposed to the history of religion the more I started to personally feel that religion has caused a lot of problems throughout history. My own personal feeling played a lot into this character of Michael King. I thought it was interesting to take a man that is a documentary filmmaker who is quite skeptical of religion and you put him with a woman who was, somewhat, religious. She's hit by a car when they were originally planning on taking an european vacation. But the psychic she's going to tells her: “You need to be here for a big break that is gonna come in tour acting career and if you take this european vacation you're gonna miss that opportunity”. So she listens to the psychic and, because of that, she's here at the time when she's hit by this car. And her husband kind of has a nervous breakdown about this: “If she hadn't listened to this psychic she would have been with me in Europe and she would never have been hit by that car. I would still have her. So what gives this woman the right to be dictating other people's lives? So I thought it was in interesting place to put a filmmaker who is trying to get over the death of his wife and, spiritually, trying to find himself in the process. I thought: Gosh! What an amazing place to put a person. At one point, he wants to prove to the world that the supernatural does not exist and if he does that the world can move forward collectively and get past this medieval concept of religion. On the other hand, he's desperately hoping to find that there's something out there, because by finding that he's also gonna be realizing that his wife is in a better place.
FT: After this found footage experience you've got involved in a new film called Roam, a movie that mixes traditional shots with POV scenes.
DJ: Roam [that stands for Rider of Another Mortal] takes a slight sci-fi twist on the horror genre, by conceptually posing what if there was a company out there that, through a tecnology they possess, can allow the really wealthy to go for a joyride in the body of another person? And they have a certain amount of time that they can ride in that body and, because it's not their own body, they have the freedom to go out and do whatever they want: to rape, to pillage, to beat themselves up, to do anything that you ever wanted but you've been too scared to do it because of the consequences. That's something that's currently in the early stages of pre-production, along with a couple of other films.
FT: Do you have any release date for Roam in mind?
DJ: I don't have a release date in mind yet, because there's another movie I got involved in, which is called The King of Sting, which is based on a book by Craig Glazer. It's based on a true life story about an 18 year-old kid that is going to the Arizona State University, here in the States, in 1970 which couldn't afford to stay in the school and had a crazy idea to team up with a Vietnam veteran and pose as undercover police officers and start ripping off the colombian cartel and the mafia. Ant they'd set up this elaborate drug deals with the mafia where they were selling them hundreds of pounds of marijuana and cocaine and, when the mafia brought the money out, these guys would pull “badges” and guns and tell them that was an undercover police operation. And the “police” cars would pull up and the doors would get kicked down by “police officers”, but they were all people they had paid to be part of this elaborate scheme. And this kid made millions of dollars when he was 18 years old and he bought a huge mansion right off campus. And the mafia actually tracked him down and were going to kill him. He was rescued by the DEA and ended up becoming the youngest special agent in US history because he knew so much about the mafia and the cartel that they brought him in. I just finished the second draft of the screenplay for Mayhem Studios. We're gonna begin casting this movie very shortly. It's a very big departure from the horror film.
FT: It's an action movie...
DJ: It's a true crime story, like Catch me if You Can (2002), The Good Fellas (1990) and Casino (1995), like a Martin Scorsese type of film. That might happen before Roam happens.
FT: Well, I wish you success in your new projects and The Possession of Michael King.
DJ: I hope The Possession of Michael King is warmly embraced in Brazil. I had a lot of fun making it, so I hope people enjoy it.