SEMENTES NO GELO, de André Vianco: Resenha de livro

Sementes no Gelo foi o terceiro livro de André Vianco que eu li. E até agora o mais fraco (os outros dois foram Os Sete e O Caminho do Poço das Lágrimas).

Vou começar a resenha pelo aspecto do livro, uma primeira edição (editada pelo próprio Vianco), de 2000, que comprei na Estante Virtual.

Ao contrário da edição independente de Os Sete, que tem uma capa bem produzida (e que também comprei em um sebo), esta primeira edição de Sementes tem uma capa feia (muito feia!) que não combina em nada com a história.

Capa da 1a. edição

Para sorte de Vianco, depois que ele assinou com a Novo Século, novas capas foram produzidas e os resultados ficaram bem melhores. O miolo tampouco tem uma produção muito primorosa, mas é passável. Veja abaixo as capas profissionais da editora:

Primeira edição da Novo Século

Vamos à história, então. Como eu disse, esse livro é bem mais fraco do que os outros dois livros de Vianco que eu li. O grande trunfo de Sementes no Gelo é a originalidade da história. Isso não tem como negar, o enredo passa longe dos clichês do gênero do terror. 

Em suma, trata-se de uma história de assombração, em que os fantasmas são os espíritos dos fetos de proveta que não foram inseminados no útero de suas mães.

Mas, para falar a verdade, esse é o único trunfo de Vianco, em seu terceiro romance (e último antes de assinar com a Novo Século). Sementes no Gelo tem personagens fracos e desinteressantes. O protagonista, por exemplo, é um endividado detetive particular que acaba enredado na trama fantasmagórica ao ajudar uma ex-namorada de tempos de escola.

Só o fato de ter como personagem principal um detetive particular, um dos arquétipos mais entediantes da literatura, já é um indicativo de que as demais personagens não atrairão sua atenção.

Capa da edição mais recente

Outra coisa: o livro se propõe a ser de terror, mas não provoca nenhuma das sensações esperadas em uma história do gênero: medo, repulsa, angústia ou ansiedade. Também faltam mistério e suspense.

As cenas de assombração são pouco convincentes. As crianças interagem com o mundo natural como se fossem criaturas vivas e não espectros sobrenaturais. Quando estão com raiva, elas chutam e socam as pessoas. Ou seja, pouco fantasmagórico.

Os diálogos também ficam aquém, mas isso é algo que percebi nos outros dois livros de Vianco (Os Sete e Caminho do Poço de Lágrimas). Um dos espíritos das crianças, por exemplo, fala "porra" a toda hora, uma expressão não muito usada por crianças.

Outra questão que me deixou perplexo foi o fato de que, na verdade, os fetos não estão mortos. Eles estão congelados. Ora, se não estão mortos, como podem ter espíritos vagando por aí? Outra coisa: não há explicação sobre por que esses "espectros fetais" começam a fazer aparições pela cidade.

Inseminação artificial existe há vários anos, mas nunca fizeram aparições. Então, de repente, de um dia para o outro, os espíritos de Vianco resolvem começar a aparecer, espancar e matar as pessoas. Por que eles não apareceram antes, eu pergunto? O que desencadeou essa onda de aparições? Eu não consegui entender. Talvez haja alguma explicação para isso no livro e eu tenha passado batido por esse trecho ao tentar acelerar a leitura. Talvez não haja nenhuma explicação mesmo.

Enfim, Sementes no Gelo tem uma ótima premissa, mas poderia ter sido explorada melhor. Como grande autor que é, Vianco certamente teria o talento para isso. Ficou o sentimento de que a história ficou devendo em alguma coisa. Na verdade, em muitas coisas.

DADOS DO LIVRO:
Título: Sementes no Gelo
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Ano da edição original: 2000
Páginas: 192
Preço de capa: R$ 26